Encerrado o ciclo de governos de minorias à espera de um milagroso acaso de política europeia que multiplicasse os pães da aritmética parlamentar, todos os discursos que repitam o silogismo da lógica anterior ao regresso da política como persuasão podem ser de personagens à procura de autor ou meros nomes que já não correspondem às coisas nomeadas. Estamos definitivamente condenados a formas de concertação política que partindo de divergências e convergências gerem a complexidade de uma emergência que não tem que ser procura do quantitativo da aritmética parlamentar, mas antes a uma geometria de regime e de restauração de confiança da comunidade no presente aparelho de poder. Daí que o PS volte a ser uma espécie de encruzilhada do actual sistema político, cabendo-lhe o desafio histórico de evitar que a governação, ou o vazio de poder político, possa fazer renascer a tentação do curto-circuito populista, pelo excesso de principado ou pela cobardia dos marechais. Basta acalmarem as paixões que nos podem fazer regressar a Costa Cabral e a João Franco e dizer a Sócrates que quem tem por si a força do apoio interno nunca terá o desairoso de contemporizar com a balança de poderes. O Largo do Rato não é a Ilha de Elba, nem Waterloo pode ser a síntese dos que apenas pensam em termos de amigos e inimigos. Basta a humildade do arrependimento, mesmo sem confissão pública.