O sistema político, face à guerra de papéis entre os dois pólos da nossa coabitação, entrou em ritmo de avestruz, metendo a cabeça nas areias deste deserto de ideias e, como Monsieur de La Palisse, um quarto de hora antes daquilo que ontem avisou George Soros na RTP, emite comunicados e contra-comunicados, com sucessivas interpretações oficiosas.
É evidente que a mais institucional das nossas ministerialidades, atendendo, sobretudo, ao brilho das fardas a que costuma passar revista para as televisões, não aprendeu a lição de Severiano Teixeira e de Luís Amado e, enredado pelo prazer da retórica equívoca, devia prever que alguns estilhaços poderiam atingir as vidraças de Belém. Se não caiu no pecado do dolo eventual, teve, pelo menos, alguma negligência e, ao chegar à casa de que é mordomo (major domus, o maior da casa é o oficial do rei donde veio o ministro do interior) reparou que os espelhos em que se costuma reflectir estavam todos quebrados.
Apenas tenho de concluir que continuam a dominar os bonzos e os seus subprodutos, sejam endireitas ou canhotos, nesta ditadura da incompetência, para utilizarmos terminologia dos últimos tempos da I República, o tal regime que caiu um quarto de hora antes da Grande Depressão.