Os engenheiros da sondajocracia não costumam captar quantitativamente aquelas decisões individuais que surgem em estados de excepção e raramente vislumbram que a unha negra da aritmética de uns escassos dois ou três por cento pode levar Manuel Vilarinho a derrrubar Valle e Azevedo, ou Aznar a ser substituído por um qualquer Zapatero.
Os sinais do tempo confirmam que o situacionismo socrático não revela sinais de ter entrado no tal quarto de hora do “encore vivant” de Monsieur de la Palisse. Aliás, o governamentalismo, acirrando o mau gosto de alguns palanques propagandísticos, parece temer menos Manuela Ferreira Leite e muito mais o telejornal de Manuela Moura Guedes, dado que este é o único pé de barro na máquina populista que enreda a presente teledemocracia. E tudo poderá decidir-se com uma viragem na simpatia expressa pelo populismo “radical chic” de Louçã ou pelo eventual anúncio da coligação entre Sócrates e Alegre, dado que a coligação pós-eleitoral entre o PS e o PCP entre em ritmo de 1º de Maio p. p..
A grande surpresa pode vir de um crescimento lento, mas constante, do PSD que, com paciência contabilista, tenta usar a persuasão intimista da imagem dramática da respectiva líder, mas que tem contra ela tanto a imagem degradada dos respectivos círculos partidocráticos, como o efeito eucalipto de Cavaco, que acaba por impedir que as expectativas dos revoltados contra o governamentalismo se canalizem para o principal partido da oposição.