O discurso presidencial confirma que entrámos em interregno, até à eleição de uma nova governação. Viajando pela super-estrutura da metapolítica, com exercícios de retórica sobre o dever-ser, apenas confirmou que há uma espécie de suspensão da confiança pública nos actuais donos do poder. Porque, se os mecanismos dos aparelhos governamentais e parlamentares continuam em plena legalidade, têm apenas legitimidade de título, mas já não a de exercício. Porque a legitimidade é algo que não se decreta, dado que vem de baixo para cima. Aliás, um governo legítimo é aquele que, além de deixar de inspirar medo aos súbditos, actua predominantemente pela persuasão, não recorrendo aos espaços do autoritarismo ministerialista, do ideologismo, da propaganda e da manha. O presidente, no dia seguinte ao veto da lei do financiamento partidário, apenas avisou que também é um dos fundamentos do sufrágio universal do regime e que, já sem precisar de usar a bomba da dissolução, será o garante do funcionamento leal da concorrencialidade neste nosso tempo de vésperas. Porque, nas últimas eleições europeias, a maioria do povo calou e, sem consentir com o estado a que chegámos, apenas nada disse. E Cavaco, hábil gestor de silêncios, apenas prometeu que estaria vigilante contra os manipuladores da resignação!