Registo de algumas análises, farpas e aforismos no Facebook de José Adelino Maltez

22
Nov 10

Dois anos depois de uma eleição surpreendente (e, para muitos, inspiradora) pelo menos no plano interno Obama parece ter perdido grande parte da expectativa renovadora que prometeu levar para Washington.

 

Carisma, ou uma relação imediata, de primeiro grau com a divindade, numa terra de “star system” e “Estado-Espectáculo”, não rima com tele-evangelistas. Quando muto, provoca nova procura de populismos, galgando as ondas de sucessivos fundamentalismos...

 

Também na Europa, grandes líderes como Angela Merkel e Nicolas Sarkozy (pode-me ajudar com mais exemplos…, lembro-me de como Tony Blair acabou por abandonar debilitado os trabalhistas e o governo britânico) são contestados e baixam nas sondagens.

 

Como diria Marcello Caetano, depois do tempo dos homens de génio, chegou a era dos homens comuns que se medem pelos resultados da arte do possível.

 

Lula da Silva, depois de dois mandatos presidenciais no Brasil, parece ser excepção. Com menor popularidade, mas carisma intocável, também podemos aqui incluir Hugo Chávez. Que razões para isso?

 

Enquanto o pau vai e vem, folgam as costas... Por outras palavras, Lula aproveitou a ocasião para o distributivismo de precendentes investimentos e aproveitou as circunstâncias da emergência do Brasil como potência mundial. O que agora parece um êxito pode, amanhã, ser configurado como uma oportunidade perdida...

 

Será esta falta de heróis na política contemporânea uma característica mais clara nas sociedades desenvolvidas?

 

Apenas recordo que Winston Churchill, essa mistura de pragmatismo e aventura, depois de conduzir vitoriosamente a “Warfare”, perdeu as eleições, assim se confirmando que os heróis dependem das missões que as circunstâncias exigem a uma determinada condução política...

 

Tratar-se-á de um cinismo social que olha as lideranças políticas de soslaio?

 

As democracias que vivem ao ritmo da sondajocracia entendem que a vontade geral é apenas a vontade de todos, quando cada um apenas decide pensando no seu próprio interesse e não no interesse do todo...

 

E em Portugal, que heróis na política tivemos? Ramalho Eanes, Mário Soares, poderão ter sido encarados como tal? Por que é hoje mais difícil que apareçam personalidades deste gabarito na política nacional, impulsionadoras das massas pelo exemplo e carisma?

Não nos faltam personalidades com o nível dos pais-fundadores da democracia. Nota-se é um vazio de comunidade, cansados que estamos de delegados de propaganda dita médica e de caixeiros viajantes que perderam o respeito pela palavra dada e transformaram o discurso político num vazio de fórmulas...

publicado por José Adelino Maltez às 16:59

13
Nov 10


Depois de uma vaga de hiperinformação geofinanceira, eis que o “agenda setting” lançou algumas manobras de cenarização politiqueira, como a entrevista de Luís Amado ao “Expresso”, propondo uma coligação imediata, com a resposta macaense de Sócrates, confirmando ser essa a postura de todo o governo, à boa maneira das piruetas dos mercados secundários, face a uma dívida bem mais soberana.

Com efeito, com as pressões sucedidas da eurocracia e da banca sobre o acordo orçamental, já estamos sob a vigência de um Bloco Central que o PSD queria que fosse sem dor, e que é mera consequência da soberania condicionada dos laranjas até às eleições presidenciais. Por muito que o creiam, os passistas ainda não podem passear o seu ensaio de pós-cavaquismo, um pouco à imagem e semelhança do pós-socratismo de António Costa, até pela manutenção de um permanecente arquipélago soarista.

Contudo, a sondajocracia tem mostrado que, apesar do PSD ir à frente, está bem longe de uma esperança de maioria absoluta, pelo que o PS ainda acalenta a hipótese de voltar a vencer, enquanto o CDS, o PCP e o BE não descolam da imagem de marginais sistémicos. Face à inexistência de qualquer sinal institucional de uma espécie de extremo-centro, capaz de mobilizar dissidências do arco controleiro, o situacionismo, perante uma sociedade civil desertificada e a um vazio de moral social, já visualiza uma espécie de governo de tecnocratas, apoiado pelo próximo-passado presidente, mas dirigido por um socialista, capaz de adiar a dissolução parlamentar. Luís Amado apenas se candidatou a Nobre da Costa, mas tal emergância apenas sucederá se Sócrates desistir. O que poderá acontecer se se concretizar o acaso procurado de um desastre nos juros do endividamento, e a consequente entrada explícita dos credores internacionais na nossa governança...

publicado por José Adelino Maltez às 17:00

08
Nov 10

 

I

 Há regimes políticos que, apesar de nascerem de bons e justos propósitos construtivistas, quando a degenerescência os faz cair nas teias do devorismo e da empregomania, apodrecem por dentro e tentam sobreviver gerindo a manutenção no poder através da erosão situacionista, daquele rotativismo onde se vai fingindo mudar para que tudo fique na mesma.

 

II

Tudo começa, aliás, pelo revolucionarismo frustrado, por essa esquizofrenia puritana onde se desperdiçam energias em verborreia, vinganças e perseguições inquisitoriais.

 

III

Essa oportunidade perdida para a racionalidade das metodologias reformistas, as únicas que seriam capazes da necessária regeneração que sempre foi conservadora dos valores permanecentes da colectividade, apesar de exigir revolucionários objectivos quanto à pilotagem do futuro e ao empenhamento individual.

 

 

IV

Sem o urgente regresso às virtudes de um certo radicalismo descentralizador não haverá uma espontânea unidade nacional. Sem assumirmos a denúncia dos modelos absolutistas do Estado a que chegámos não haverá regeneração da nação portuguesa.

 

V

 Só através da restauração das liberdades locais e das proibidas liberdades regionais, poderemos federar as muitas pequenas pátrias da nossa grande pátria. Só através do liberdadeirismo dos muitos povos do nosso grande povo é que poderemos extinguir o Leviathan do centralismo absolutista que é tanto mais perigoso quanto se disfarça de visitador das vilas e aldeias em tempo de campanhas eleitorais.

 

 

VI

O programa de reforma administrativa de Lisboa é inviável com estas regras do jogo impostas pelos governos e parlamentos, onde a super-estrutura de todas candidaturas está neofeudalmente espartilhada pelos micropoderes da partidocracia e das forças vivas patobravistas. Nenhum quer ruptura e vão acabar por esta velha cabeça da república, quando a cidade é bem mais do que os Açores ou do que a Madeira que, felizmente, já se libertaram do jugo colonial dos capitaleiros...

 

 

VII

O principal adversário de Lisboa, esta cidade feita por subscrição nacional (Augusto de Castro), é o estadão governamentalista. Nem repara que a cidade é, hoje, uma das zonas mais socialmente degradadas do país, onde os autarcas deveriam ser vozes tribunícias desta revolta, copiando as reivindicações dos líderes das regiões autónomas...

 

VIII

Qualquer analista de estratégia e desenvolvimento manda que nos adaptemos a modelos já praticados em Madrid, Paris e todas as cidades capitais da dimensão de Lisboa. Até poderíamos reparar que Alexandre Herculano chegou a ser presidente de Belém-Ajuda para a criação de um pólo de desenvolvimento industrial da cidade no século XIX...

 

IX

Isto é, não mudar Lisboa toda ao mesmo tempo, segundo a abstracção do mesmo pronto-a-vestir, mas ir experimentando ousadias sucessivamente.

 

X

O município de Lisboa é grande demais para podermos ser vizinhos em cidadania de participação (deveria desdobrar-se em pequenas autarquias, bem maiores do que o Castelo e bem menores do que os Olivais). Mas é ao mesmo tempo pequeno demais para os grandes problemas que são da área metropolitana.

 

XI

Logo, deveríamos dividir  para unificar. Dividir a câmara em várias câmaras, como unificar a câmara a que chegámos com outras câmaras, numa espécie de entidade política regional. Logo, em vez de mapizarmos freguesias históricas num computador de estatísticas sem pessoas, deveríamos reaprender o verbo federar, pela criação de novos centros administrativos sem extinções feitas em nome de amanhãs que cantam que, em breve, serão pretérito.

 

XII

A democracia, por causa das secções locais da partidocracia dominante, não quer desfazer o mapa da pesada herança do autoritarismo do Código de Costa Cabral e Marcello Caetano. Nem sequer volta ao velho Senado, intermunicipal, que resistiu às cunhas do Marquês de Pombal
Lisboa deste camaralismo precisava de uma lei especial que a voltasse a configurar como cabeça da república. O que temos ainda é um pronto-a-vestir quase igual a Freixo-de-Espada-à-Cinta, configurado pelos administrativistas do velho ministério do interior...

 

 

 

XIII

Todos temos uma pequena pátria, incluindo os que foram obrigados a migrar para esta cidade feita por subscrição nacional, a que chamamos Lisboa.


XIV

Os senhores burocratas e partidocratas, sejam chefes de segunda ordem, directores, autarcas, ministros ou eurocratas, são especialistas em eternos erros de cálculo. Porque não conseguem adaptar a prospectiva à conjuntura e vão dando, a esta, o nome de estrutura.

XV

A única certeza que podemos ter não está na futurologia das circunstâncias, mas antes em procurarmos o eixo de eternidade em torno do qual vai circular a roda da história. Porque não é a história que faz o homem, mas antes o homem que faz a história, mesmo sem saber que história vai fazendo.

XVI

E não há nada de mais historicamente comprovado do que o falhanço das sucessivas "révolutions d'en haut", programadas pelos errados "catecismos dos industriais" com que nos querem escrever antecipadamente as novas religiões da humanidade, em nome da "ordem e do progresso". Porque a história não é o produto das boas, ou más, intenções de um, ou de alguns dos homens, mas antes o resultado da efectiva acção de todos os homens.

XVII

Em português antigo não é verdade que a democracia nasceu nas cidades. O que é verdade para a Grécia antiga, talvez não o seja para Portugal. Que, aqui, a democracia mergulha as suas raízes no visigótico conventus publicus vicinorum, começando por ser a igualdade aldeã, assente na freguesia, nessa comuna sem carta, como lhe chamava António Sardinha que, nisto, tinha como mestres Herculano, Henriques Nogueira e Teófilo.

 

XVIII

Foi, freguesia a freguesia, que fizemos o concelho. Foi, concelho a concelho, que nos demos em comunidade de nossa terra, com voz em Cortes. Foi, a partir da aldeia, que acedemos à república maior, ao abraço armilar, que passámos, de homens bons, a homens livres, sempre a caminho da república universal, da nação, enquanto super-nação futura.

 

XIX

O Portugal político, isto é, o Portugal democrático, porque não há polis sem democracia, é essencialmente de vizinhos, dos que, pelo small is beautiful, sabem que só pode haver comunidade pelo face to face. Com efeito, os profundos factores democráticos da formação de Portugal levaram a que as nossas cidades e vilas fossem feitas por subscrição aldeã.

 

XX

Mesmo Lisboa, das sete colinas ou doutras aldeias federadas, não deixa de ser terra de hortas e de gente nostálgica do rio que passa em suas terras. Talvez só o Porto seja retintamente burguês, no seu oppidum, feito capital do bloco rural do Norte, como porta aberta ao comércio externo e ao sentido de viagem. Aquilo a que muito chamam pequeno-burgues  talvez não passe desses habitantes de uma urbe com saudades da santa-terrinha, dos que sofreram o cerco dos invasores e que a partir dos portos urbanos peregrinaram por todo o mundo. Para plantarem mais aldeias, mais concelhos, mais cidades...

 

XXI

O nosso velho Estado Novo, dito Welfare State, ainda tem suficientes jóias da coroa para evitar que se entre no rodopio do Warfare State, até porque sempre podemos privatizar as praias ou vender em lotes o novo espaço de acrescentamento da zona económica exclusiva. Aliás, não é de descartar a hipótese de haver petróleo no Beato. E enquanto o pau vai e vem, de Bruxelas para Pequim, folgarão as costas da engenharia financeira, com muitos honestos a gerirem corruptos e outros tantos corruptos a gerirem honestos, em regime de alterne.

 

XXII

Se o dito Estado-Providência se tornou num Estado-Falência, só me custa ver que o tal discurso quanto à moralização da administração pública continue a ser feito por alguns que representam o pior do que houve a nível do negocismo feito outsourcing, através das muitas sociedades de economia mística, encabeçadas pelos desempregados da partidocracia.

 

XXIII

Importa voltar a querer, não uma ilha sem lugar, onde é provável  o afundamento sem regresso, nem o menos mau da empregomania e do salve-se quem puder, mas o aqui e agora da subversão pela justiça, num transcendente situado nas circunstâncias do tempo e do lugar. Naquilo que Jacques Maritain qualificava como um ideal histórico concreto, onde, em vez do castelhano Dom Quixote, a lutar contra os moinhos de vento, haja um Zé Sancho Pança, ou João Semana, a semear para colher, sem ter que ser confiscado por um sistema quase ladrão, que continua a isentar os privilegiados que têm lobby e a permitir a evasão fiscal, sem um programa consequente de luta contra a corrupção e o indiferentismo cívico. O presente Estado dito de Bem-Estar é mero manto diáfano de fraseologia discursiva que recobre a verdade nua e crua da injustiça. Cuidado com o evitável Estado de Mal-Estar!

 

publicado por José Adelino Maltez às 17:01

03
Nov 10

Se presidente comunica por Twiter e e Passos pelo Facebook, façamos hoje greve de zelo, gerindo os silêncios. Mandar é ter o monopólio da palavra e eles, os políticos que não se calam, mesmo quando proclamam que são antipolíticos, vêm agora ocupar este espaço de liberdade. Até a Manela discursou no Parlamento!

Quando está em crise a própria vontade de sermos independentes, pobres merceeiros sem sonhos, enrodilhados entre picaretas falantes que gastam a palavra pelo uso e a prostituem pelo abuso!

 Se há quem finja ir ao dietista, para disfarçar a fome de espírito, muitos preferem o SPA, transformando a correria no tapete e a musculação para o boneco em simples dedução fiscal...

publicado por José Adelino Maltez às 10:43

01
Nov 10

Em dia de todos os santos, mesmo da casa, o milagre da multiplicação dos pastéis... Em terra de coelhos, não atirem pérolas aos porcinos que se submetem à pia...

publicado por José Adelino Maltez às 16:25

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Biografia
Bem mais de meio século de vida; quarenta e dois anos de universidade pública portuguesa; outros tantos de escrita pública no combate de ideias; professor há mais de trinta e cinco e tal; expulso da universidade como estudante; processado como catedrático pelo exercício da palavra em jornais e blogues. Ainda espera que neste reino por cumprir se restaure a república
Invocação
Como dizia mestre Herculano, ao definir o essencial de um liberal: "Há uma cousa em que supponho que ate os meus mais entranhaveis inimigos me fazem justiça; e é que não costumo calar nem attenuar as proprias opiniões onde e quando, por dever moral ou juridico, tenho de manifestá-las"......
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