Depois de uma vaga de hiperinformação geofinanceira, eis que o “agenda setting” lançou algumas manobras de cenarização politiqueira, como a entrevista de Luís Amado ao “Expresso”, propondo uma coligação imediata, com a resposta macaense de Sócrates, confirmando ser essa a postura de todo o governo, à boa maneira das piruetas dos mercados secundários, face a uma dívida bem mais soberana.
Com efeito, com as pressões sucedidas da eurocracia e da banca sobre o acordo orçamental, já estamos sob a vigência de um Bloco Central que o PSD queria que fosse sem dor, e que é mera consequência da soberania condicionada dos laranjas até às eleições presidenciais. Por muito que o creiam, os passistas ainda não podem passear o seu ensaio de pós-cavaquismo, um pouco à imagem e semelhança do pós-socratismo de António Costa, até pela manutenção de um permanecente arquipélago soarista.
Contudo, a sondajocracia tem mostrado que, apesar do PSD ir à frente, está bem longe de uma esperança de maioria absoluta, pelo que o PS ainda acalenta a hipótese de voltar a vencer, enquanto o CDS, o PCP e o BE não descolam da imagem de marginais sistémicos. Face à inexistência de qualquer sinal institucional de uma espécie de extremo-centro, capaz de mobilizar dissidências do arco controleiro, o situacionismo, perante uma sociedade civil desertificada e a um vazio de moral social, já visualiza uma espécie de governo de tecnocratas, apoiado pelo próximo-passado presidente, mas dirigido por um socialista, capaz de adiar a dissolução parlamentar. Luís Amado apenas se candidatou a Nobre da Costa, mas tal emergância apenas sucederá se Sócrates desistir. O que poderá acontecer se se concretizar o acaso procurado de um desastre nos juros do endividamento, e a consequente entrada explícita dos credores internacionais na nossa governança...