Dois anos depois de uma eleição surpreendente (e, para muitos, inspiradora) pelo menos no plano interno Obama parece ter perdido grande parte da expectativa renovadora que prometeu levar para Washington.
Carisma, ou uma relação imediata, de primeiro grau com a divindade, numa terra de “star system” e “Estado-Espectáculo”, não rima com tele-evangelistas. Quando muto, provoca nova procura de populismos, galgando as ondas de sucessivos fundamentalismos...
Também na Europa, grandes líderes como Angela Merkel e Nicolas Sarkozy (pode-me ajudar com mais exemplos…, lembro-me de como Tony Blair acabou por abandonar debilitado os trabalhistas e o governo britânico) são contestados e baixam nas sondagens.
Como diria Marcello Caetano, depois do tempo dos homens de génio, chegou a era dos homens comuns que se medem pelos resultados da arte do possível.
Lula da Silva, depois de dois mandatos presidenciais no Brasil, parece ser excepção. Com menor popularidade, mas carisma intocável, também podemos aqui incluir Hugo Chávez. Que razões para isso?
Enquanto o pau vai e vem, folgam as costas... Por outras palavras, Lula aproveitou a ocasião para o distributivismo de precendentes investimentos e aproveitou as circunstâncias da emergência do Brasil como potência mundial. O que agora parece um êxito pode, amanhã, ser configurado como uma oportunidade perdida...
Será esta falta de heróis na política contemporânea uma característica mais clara nas sociedades desenvolvidas?
Apenas recordo que Winston Churchill, essa mistura de pragmatismo e aventura, depois de conduzir vitoriosamente a “Warfare”, perdeu as eleições, assim se confirmando que os heróis dependem das missões que as circunstâncias exigem a uma determinada condução política...
Tratar-se-á de um cinismo social que olha as lideranças políticas de soslaio?
As democracias que vivem ao ritmo da sondajocracia entendem que a vontade geral é apenas a vontade de todos, quando cada um apenas decide pensando no seu próprio interesse e não no interesse do todo...
E em Portugal, que heróis na política tivemos? Ramalho Eanes, Mário Soares, poderão ter sido encarados como tal? Por que é hoje mais difícil que apareçam personalidades deste gabarito na política nacional, impulsionadoras das massas pelo exemplo e carisma?
Não nos faltam personalidades com o nível dos pais-fundadores da democracia. Nota-se é um vazio de comunidade, cansados que estamos de delegados de propaganda dita médica e de caixeiros viajantes que perderam o respeito pela palavra dada e transformaram o discurso político num vazio de fórmulas...