Registo de algumas análises, farpas e aforismos no Facebook de José Adelino Maltez

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Jan 11

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Aferventam-se as almas de hoje com belos escritos de certos historiógrafos, excelentes analistas dos costumes políticos dos nossos finais do século XIX, invocando continuidades sobre o défice e os atavismos devoristas da classe política. E com toda a razão.

 

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As muitas e boas leitura da história do Portugal Contemporâneo podem, muito diacronicamente, ocultar-nos o desafio da sincronia europeia e globalizante. Porque se torna impossível caminharmos para Alcácer-Quibir, procurando um curto-circuito que nos devolva um qualquer “mare clausum”, assente no velho triângulo estratégico que, a partir da fundação do Rio de Janeiro, permitisse a reconquista de Luanda e o tráfico negreiro que gerou certos negócios esclavagistas, ou de companhias majestáticas, para os velhos capitaleiros.

 

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Voltando às justas sátiras dos velhos vencidos da vida, que certos mais velhos de hoje dizem repudiar, apenas convém recordar que esses antigos críticos da democracia censitária, o foram antes das revoluções e contra-revoluções nos amarguraram o século XX, entre fascismos e comunismos que certos neototalitários lusitanos continuam a traduzir em calão, como se fosse possível um qual1quer D. Sebastião científico, como bem avisava Guerra Junqueiro.

 

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O aparelhismo de poder da nossa “belle époque”, entre o regicídio e o republiquicído, apenas sustentava tímidas políticas públicas que, antes do 28 de Maio, nem sequer chegavam aos 10% do PIB. Porque foi Salazar, com meio século de atraso, nos importou Napoleão III e Bismarck, chamando Estado Novo à Providência, antes de Marcello Caetano o rebaptizar como Estado Social.

 

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Acresce que a geração do Ultimatum e da República, para além do escoamento de excedentes demográficos para o Brasil, aproveitou o conflito das grandes potências, depois da Conferência de Berlim, para construir, à pressa, o nosso último ciclo imperial, não o que acabou em Goa, em 1961, mas o que durou, pela mobilização da guerra colonial, até à descolonização dita exemplar de 1974 e 1975. A ilusão do “não há Portugal sem África”, como clamava António Ennes e irmanou Paiva Couceiro e Norton de Matos.

 

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Aproveitávamos os interstícios de poder que, no continente político que começou com a conquista de Ceuta em 1415, nos permitiam os jogos da balança da Europa. E até intensificámos o esforço com a guerra colonial, só começada depois de Dien Bien Phu, da Conferência de Bandungue e da retirada de Argel. Quando De Gaulle decidiu caminhar para a CEE, através da cooperação intergovernamental, neste híbrido a que damos o nome de projecto europeu.

 

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Pardoxalmente, quanto mais nos iludíamos com a africanização, no derradeiro esforço do patriotismo imperial, tanto emigrámos para o Brasil, na monarquia constitucional e na Primeira República, como, no crepúsculo do salazarismo, demos os saltos para as Franças e Araganças, mesmo com mala de cartão, antecipando a presente integração europeia.

 

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Daí que sejam verdadeiramente inéditos os novos fenómenos demográficos do presente cavaquismo e dos seus heterónimos, do guterrismo e do socratismo. É a primeira vez na nossa história contemporânea e multi-secular que estamos enjoadamente empedrados nas fronteiras medievais. Daí que uma maioria sociológica de enjoados e insignes ficantes apoie tanto o situacionismo presidencial como o situacionismo governamental, dado que o daquém já não pode safar-se pela procura do d’além.

publicado por José Adelino Maltez às 17:22

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Bem mais de meio século de vida; quarenta e dois anos de universidade pública portuguesa; outros tantos de escrita pública no combate de ideias; professor há mais de trinta e cinco e tal; expulso da universidade como estudante; processado como catedrático pelo exercício da palavra em jornais e blogues. Ainda espera que neste reino por cumprir se restaure a república
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Como dizia mestre Herculano, ao definir o essencial de um liberal: "Há uma cousa em que supponho que ate os meus mais entranhaveis inimigos me fazem justiça; e é que não costumo calar nem attenuar as proprias opiniões onde e quando, por dever moral ou juridico, tenho de manifestá-las"......
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