Registo de algumas análises, farpas e aforismos no Facebook de José Adelino Maltez

31
Jan 11

1

Aferventam-se as almas de hoje com belos escritos de certos historiógrafos, excelentes analistas dos costumes políticos dos nossos finais do século XIX, invocando continuidades sobre o défice e os atavismos devoristas da classe política. E com toda a razão.

 

2

As muitas e boas leitura da história do Portugal Contemporâneo podem, muito diacronicamente, ocultar-nos o desafio da sincronia europeia e globalizante. Porque se torna impossível caminharmos para Alcácer-Quibir, procurando um curto-circuito que nos devolva um qualquer “mare clausum”, assente no velho triângulo estratégico que, a partir da fundação do Rio de Janeiro, permitisse a reconquista de Luanda e o tráfico negreiro que gerou certos negócios esclavagistas, ou de companhias majestáticas, para os velhos capitaleiros.

 

3

Voltando às justas sátiras dos velhos vencidos da vida, que certos mais velhos de hoje dizem repudiar, apenas convém recordar que esses antigos críticos da democracia censitária, o foram antes das revoluções e contra-revoluções nos amarguraram o século XX, entre fascismos e comunismos que certos neototalitários lusitanos continuam a traduzir em calão, como se fosse possível um qual1quer D. Sebastião científico, como bem avisava Guerra Junqueiro.

 

4

O aparelhismo de poder da nossa “belle époque”, entre o regicídio e o republiquicído, apenas sustentava tímidas políticas públicas que, antes do 28 de Maio, nem sequer chegavam aos 10% do PIB. Porque foi Salazar, com meio século de atraso, nos importou Napoleão III e Bismarck, chamando Estado Novo à Providência, antes de Marcello Caetano o rebaptizar como Estado Social.

 

5

Acresce que a geração do Ultimatum e da República, para além do escoamento de excedentes demográficos para o Brasil, aproveitou o conflito das grandes potências, depois da Conferência de Berlim, para construir, à pressa, o nosso último ciclo imperial, não o que acabou em Goa, em 1961, mas o que durou, pela mobilização da guerra colonial, até à descolonização dita exemplar de 1974 e 1975. A ilusão do “não há Portugal sem África”, como clamava António Ennes e irmanou Paiva Couceiro e Norton de Matos.

 

6

Aproveitávamos os interstícios de poder que, no continente político que começou com a conquista de Ceuta em 1415, nos permitiam os jogos da balança da Europa. E até intensificámos o esforço com a guerra colonial, só começada depois de Dien Bien Phu, da Conferência de Bandungue e da retirada de Argel. Quando De Gaulle decidiu caminhar para a CEE, através da cooperação intergovernamental, neste híbrido a que damos o nome de projecto europeu.

 

7

Pardoxalmente, quanto mais nos iludíamos com a africanização, no derradeiro esforço do patriotismo imperial, tanto emigrámos para o Brasil, na monarquia constitucional e na Primeira República, como, no crepúsculo do salazarismo, demos os saltos para as Franças e Araganças, mesmo com mala de cartão, antecipando a presente integração europeia.

 

8

Daí que sejam verdadeiramente inéditos os novos fenómenos demográficos do presente cavaquismo e dos seus heterónimos, do guterrismo e do socratismo. É a primeira vez na nossa história contemporânea e multi-secular que estamos enjoadamente empedrados nas fronteiras medievais. Daí que uma maioria sociológica de enjoados e insignes ficantes apoie tanto o situacionismo presidencial como o situacionismo governamental, dado que o daquém já não pode safar-se pela procura do d’além.

publicado por José Adelino Maltez às 17:22

29
Jan 11

publicado por José Adelino Maltez às 20:08

1

Os merceeiros, os enjoados e os quixotes que nos enrascam não assumem que é possível subverter a realidade através da metalinguagem e das erráticas metáforas. Não compreendem esse quanto mais poético, mais real, cantado por Novalis.

 

2

A poesia sempre foi mais verdade, no sentido de mais filosófico, do que a história, como ensinava Aristóteles. Porque a via do transcendente sempre esteve mais situada nas circunstâncias do lugar e do tempo, do que as utopias e ucronias em que se enreda o pretenso cientismo, aquele que determina só existir aquilo que se pode medir, como as rígidas réguas dos paradigmas, sempre ultrapassáveis.

 

3

Quem procura manejar o lume da profecia, sem o fazer esvoaçar fora do lume da razão, vive sempre fora do tempo dominante, sobretudo quando procura conjugar o eterno, longe dos que se enredam no paralelograma de forças do passado, sem as necessárias saudades de futuro.

 

4

Não subscrevem aquele dito de Vieira, segundo o qual só há o verdadeiro fora do tempo. Ou melhor: fora daquilo que os donos do poder absoluta e da dita ciência certa decretam como suas verdades incontestáveis.

 

5

A realidade sempre foi subvertida pelas autonomias, quando estas assumem que, no princípio, tem de estar o fim, o tal dever-ser que é, das essências que apenas se realizam pelas existências, onde só por dentro das coisas, as coisas realmente são.

 

6

Todos os decretinos processadores, em nome da ideologia ou do vértice hierárquico, seja ministerialismo, sejam seus sucedâneos, directoristas, presidencialistas ou rectorísticos, temem todos os que praticam o pensar é dizer não, como dizia Alain. Ou que a revolta é bem mais fecunda que a revolução, como vai acrescentar Camus.

 

7

A essência do homem ocidental sempre foi o individual do indiviso, essa dignidade da pessoa humana. Ou como assinalava Unamuno, a essência do homem ocidental é o ser do contra.

 

8

Quem experimentou as garras do saneamento e do processamento da persiganga, com que os instalados tentam calar a revolta, não pode admitir que o rolo unidimensional do conformismo nos faça enjoar, sobretudo nesta praia da Europa que sempre foi partida para todas as sete partidas.

 

9

O sinal do nosso futuro continua a passar pela resistência individual e pelo pensamento crítico da liberdade. Mesmo quando se rejeitam as normalizações impostas pelos pretensos antidogmáticos neodogmáticos, como esses que, perante certo situacionismo, proclamam que têm o monopólio da contestação e assim nos desmobilizam.

 

10

Os bobos da demagogia, da tirania e da mentira podem alimentar-se desses irmãos-inimigos. Quem quiser continuar mesmo do contra tem que procurar o mais além e antecipar o tempo da revolta.  

publicado por José Adelino Maltez às 17:24

21
Jan 11

O melhor desta campanha eleitoral esteve na circunstância de nos podermos relembrar do mais aliciante da democracia: o podermos fazer um golpe de Estado sem efusão de sangue, através do bom uso do poder de sufrágio.

 

Mas, como antes de qualquer mudança (“perestroika”) tem de haver transparência (“glasnot”), eis que muitos não souberam lutar adequadamente contra a corrupção e o indiferentismo que continuam a sitiar a cidadania, impedindo que a honra volte a casar-se com a inteligência, para que possamos viver como pensamos.

 

E assim nos enredámos em sucessivas campanhas negras onde quem atirou pedradas aos telhados de vidro do vizinho acabou com os seus estilhaçados. Pior do que isso: em vez da defunta luta de classes, tiraram do caixote de lixo da história as velhas técnicas inquisitoriais, dos moscas e dos bufos, em nome daquele maquiavelismo que admite todos os meios para que se alcancem quaisquer bons fins, onde tenha razão quem vence.

 

Talvez tal literatura de justificação não tenha reparado que quem parece ter razão, no curto prazo, mesmo que se sirva de uma má moral, pode acabar por também a perder no médio, assim se confirmando que tal expediente também é uma péssima política. Mesmo que, longo prazo, estejamos todos mortos. Daí que vencer também possa equivaler aoser vencido.

 

Sócrates não se arrepende de não ter copiado o gesto de Cavaco, quando, na qualidade de chefe de governo e de líder do PSD, hipocritamente apoiou a recandidatura de Soares. Sócrates apenas sonha na manutenção do poder, esticando a corda para uma candidatura a Belém daqui a cinco anos, mesmo que apenas saia vitoriosa daqui a dez. São meros irmãos-inimigos.

 

Se o vencedor da sondajocracia coincidir com o vencedor da democracia, confirma-se que mantém "potestas" e vai continuar a viver no palácio do "guarda-patos", mas desconfia-se que perdeu "auctoritas", porque a confiança pública na veneranda figura ficou mais triste.

 

Francisco Lopes justifica a respectiva região demarcada e impõe que a UNESCO declare o nosso nonagenário partido bolchequive património cultural da humanidade, apesar de as festas do Avante serem posteriores a outras peregrinações de outra fé. É tudo uma questão de respeitável metafísica.

 

Para além do candidato sombra, o que rejeita a urna, a melhor campanha é a da sociedade civil. Não as notícias sobre o assassinato de Nova Iorque ou o pedido de demissão de um presidente da futebolítica, mas os comícios dos movimentos escolas-SOS e dos defensores do Ramal da Lousã

 

Para além do candidato sombra, o que rejeita a urna, a melhor campanha é a da sociedade civil. Não as notícias sobre o assassinato de Nova Iorque ou o pedido de demissão de um presidente da futebolítica, mas os comícios dos movimentos escolas-SOS e dos defensores do Ramal da Lousã

 

O jogo eleitoral vai enfrentar novas circunstâncias. Um Estado que perdeu soberania no plano externo (moeda, ranking, compra da dívida) e a deixou esvair no plano interno, com o crescendo do indiferentismo e da corrupção e deixando fragmentar-se por vários Estados dentro do Estado.

As sondagens nunca erram nas medições. Apenas não sabem medir coisas curvas e volumes sólidos e gasosos. Nem sequer a dimensão da senhora dona Abstenção, a provável vencedora das eleições de domingo. Os restantes candidatos apenas se distribuem pelos votos validamente expressos

 

É honesto reconhecer que todos temos telhados de vidro. Não é desonesto exigir que os bons exemplos venham de cima. Malhas que o mostrengo tece. Mas o príncipe está sujeito à própria lei que edita. E nem tudo o que o príncipe diz tem valor de lei.

Em 1975, vingámo-nos de Kerenski e da honra manchada dos girondinos e mancheviques. Com o grupo dos Nove, o PS, o PPD e o CDS, o apoio da Igreja, aliada à maçonaria, e a força das ruas, sem circos ambulantes... Até Machado Santos se coligou com Paiva Couceiro e Amália cantou Alegre...

 

Sou deste partido e votarei domingo em coerência. Também gostaria de votar na segunda volta. Nem que seja em Machado Santos, desde que este ressuscite.

 

O que não impediu Salazar de, posteriormente, estabelecer que, na Constituição a plebiscitar, as abstenções contariam como voto a favor. Tudo muito republicamente para nos tramar. Na primeira e na segunda, já que, na terceira, o povo, através dos partidos e dos homens bons, impediu as intenções bolcheviques.

 

Por acaso, em 1911, o decreto eleitoral da 1ª República declarava como expressamente eleita, sem ida às urnas, a lista que o poder provisório emitia. O velho Partido Socialista, o de 1875, estragou a festa e concorreu, mas apenas nalguns círculos. Teve apenas uns milharzitos de votos, mas salvou a honra do pluralismo.

 

Para os devidos efeitos, já se anuncia, com a TVI roubando a caixa ao Expresso, que, na presente revisão constitucional, os principais partidos já acordaram no seguinte artigo 1º: "Portugal é uma república semi-soberana, com base no ranking e em regime de sondajocracia e muito respeitinho".

 

Decreto suprapresidencial que acaba de ser emitido, com artigo único: "Tendo em vista a contenção de custos e os resultados unânimes dos barómetros e sondagens, os portugueses ficam dispensados da maçada de ir à urna, sendo aclamado por unanimidade quem está acima dos partidos e dos próprios portugueses. Amen!". A edição do diploma é acompanhada por adequado parecer do Professor Marcelo.

publicado por José Adelino Maltez às 16:07

20
Jan 11


 

O melhor desta campanha eleitoral esteve na circunstância de nos podermos relembrar do mais aliciante da democracia: o podermos fazer um golpe de Estado sem efusão de sangue, através do bom uso do poder de sufrágio. Mas, como antes de qualquer mudança (“perestroika”) tem de haver transparência (“glasnot”), eis que muitos não souberam lutar adequadamente contra a corrupção e o indiferentismo que continuam a sitiar a cidadania, impedindo que a honra volte a casar-se com a inteligência, para que possamos viver como pensamos. E assim nos enredámos em sucessivas campanhas negras onde quem atirou pedradas aos telhados de vidro do vizinho acabou com os seus estilhaçados. Pior do que isso: em vez da defunta luta de classes, tiraram do caixote de lixo da história as velhas técnicas inquisitoriais, dos moscas e do bufos, em nome daquele maquiavelismo que admite todos os meios para que se alcancem quaisquer bons fins, onde tenha razão quem vence. Talvez tal literatura de justificação não tenha reparado que quem parece ter razão, no curto prazo, mesmo que se sirva de uma má moral, pode acabar por também a perder no médio, assim se confirmando que tal expediente também é uma péssima política. Mesmo que, longo prazo, estejamos todos mortos. Daí que vencer também possa equivaler ao ser vencido.

publicado por José Adelino Maltez às 19:34

O melhor desta campanha eleitoral esteve na circunstância de nos podermos relembrar do mais aliciante da democracia: o podermos fazer um golpe de Estado sem efusão de sangue, através do bom uso do poder de sufrágio. Mas, como antes de qualquer mudança (“perestroika”) tem de haver transparência (“glasnot”), eis que muitos não souberam lutar adequadamente contra a corrupção e o indiferentismo que continuam a sitiar a cidadania, impedindo que a honra volte a casar-se com a inteligência, para que possamos viver como pensamos. E assim nos enredámos em sucessivas campanhas negras onde quem atirou pedradas aos telhados de vidro do vizinho acabou com os seus estilhaçados. Pior do que isso: em vez da defunta luta de classes, tiraram do caixote de lixo da história as velhas técnicas inquisitoriais, dos moscas e do bufos, em nome daquele maquiavelismo que admite todos os meios para que se alcancem quaisquer bons fins, onde tenha razão quem vence. Talvez tal literatura de justificação não tenha reparado que quem parece ter razão, no curto prazo, mesmo que se sirva de uma má moral, pode acabar por também a perder no médio, assim se confirmando que tal expediente também é uma péssima política. Mesmo que, longo prazo, estejamos todos mortos. Daí que vencer também possa equivaler ao ser vencido.

publicado por José Adelino Maltez às 18:59

14
Jan 11

Rebaixando os fins da política podemos transformar um povo numa multidão de instintos e estupidificar a racionalidade, quando a entalamos nos prós e contras de fantasmas de direita e de preconceitos de esquerda

 

Se a maioria do eleitorado se capacitasse da revolta individual, isto é, que não pertence ao dito povo de esquerda nem àquela direita que não tem a coragem de esquerda de dizer que é de direita, poderia haver mesmo mudança pelo poder de sufrágio, como aqueles golpes de estado sem efusão de sangue que fazem a beleza da democracia...

 

Com o púlpito do trono assente em sermões de província, há quem responda com um altar feito de porco no espeto. Ou de como se invoca cardeal para eclesiástica censura a um qualquer abade lá da raia. Prefiro citar o discurso do papa a homenagear noventa e nove anos de lei da separação e setenta de concordata, revista e anotada.

 

Vou ouvindo na TSF debate do DN sobre o estado a que chegou o Estado. Ninguém diz que há estados dentro do velho Estado e Estados além do estado a que chegámos. O leilão da dívida foi exemplar: passou, quase ao mesmo tempo, por Roma, Madrid e Lisboa, com Pequim a meter a farpa...

 

Infelizmente, as nossas elites, as que misturam os manuais de OPAN do salazarismo com resquícios das vulgatas marxistóides e maoístas, tanto desconhecem o liberalismo à antiga como as receitas federalistas que fizeram coisas como a Suíça ou os Estados Unidos. Não sou suficientemente loucas para construir a grandeza.

 

O Estado desta parvónia são pés inchados e muitas arrastadeiras. Ele deixou de ser o cérebro social. Logo, como não se pensa, continua à espera do falso desembarque dos amigos de Peniche, pedindo votos em nome das lentilhas que os que compram e vendem poder deixam escorregar para os que entram no jogo suicida que nos adia...

 

Todos citam Paul Krugman, ora a torto, ora a direito, conforme as conveniências da propaganda. Ainda não vi nenhum compreendê-lo no essencial. Isto é, no próprio título do blogue que emite no NYTimes, "a consciência de um liberal".

 

O país em parangonas: Estado comprou dívida ao Estado. Custo extra com a dívida vai consumir poupança com corte dos salários. Sócrates acusa Cavaco de "não estar à altura" dos interesses de Portugal. China confirma ter emprestado muito dinheiro a Portugal e elogia o país. Apoio custará mais do que juros, dizem peritos: mais África e apoios fiscais. Venha a mim o vosso voto. Amen...

 

Em Castelo Branco, houve porco no espeto para o comício. Cavaco, em Trás-os-Montes, diz que foi à missa e cita o sermão do senhor prior. Defensor dança bem a coladeira. Nobre comovido com o abraço de um alentejano de 87 anos. Lopes sopra no vidro na Marinha Grande. Mais não digo.

 

Vou ouvindo na TSF debate do DN sobre o estado a que chegou o Estado. Ninguém diz que há estados dentro do velho Estado e Estados além do estado a que chegámos. O leilão da dívida foi exemplar: passou, quase ao mesmo tempo, por Roma, Madrid e Lisboa, com Pequim a meter a farpa..

 

Como dizia Daniel Bell, o Estado (o de Salazar, Cavaco e Sócrates) é, ao mesmo tempo, grande demais para os pequenos problemas da proximidade e pequeno demais para os grandes problemas do nosso tempo. A solução passa pelo aparente paradoxo da descentralização e da concentração estratégica. Para evitarmos as vulnerabilidades e flexibilizarmos as potencialidades.

 

Infelizmente, as nossas elites, as que misturam os manuais de OPAN do salazarismo com resquícios das vulgatas marxistóides e maoístas, tanto desconhecem o liberalismo à antiga como as receitas federalistas que fizeram coisas como a Suíça ou os Estados Unidos. Não sou suficientemente loucas para construir a grandeza.

 

O Estado desta parvónia são pés inchados e muitas arrastadeiras. Ele deixou de ser o cérebro social. Logo, como não se pensa, continua à espera do falso desembarque dos amigos de Peniche, pedindo votos em nome das lentilhas que os que compram e vendem poder deixam escorregar para os que entram no jogo suicida que nos adia...

 

Há os mercados primatas e os ditos secundários. E resta sempre saber de onde veio a procura. Eu cá também não sei. Prefiro a do tempo perdido...mas à maneira do Proust que também não sabia nada de finanças...

 

A economia, ciência da casa (oikos) pertence ao espaço do doméstico. A política apenas acontece quando se sai do dono e se discute a palavra na praça pública. Mas tudo começa na moral, na ciência dos actos do homem enquanto indivíduo.

 

E a teologia, desde que não seja ciência arquitectónica, ou rainha das ciências sociais, é indispensável para a compreensão da "polis", que só emergiu quando as várias aldeias se federaram em torno da acrópole, a colina onde existia o templo (p. e. a sé, que laicizámos como nação, ou pátria) e a sala do concelho (o aparelho de poder, a que damos o nome de Estado). Está tudo no tratado do Aristóteles, revisto e acrescentado por São Tomás e, mais recentemente, por Hannah Arendt...

 

Noto que a procura foi superior à oferta para os de Espanha e de Itália, hoje. Os juros são mais do que foram e menos do que são. Hoje foi além da Estrela e dos Alpes, nos ultramontanos, ontem, no daquém, cá na Parvónia. Krugman já fala em Pirro. Logo, não mais o vão citar, certos campanheiros. Apenas um conselho aos nossos propagandistas do situacionismo: sejam cidadãos do mundo e não gozem mais com a tia!

Krugman alerta, Teixeira exulta. Afinal Nossa Senhora Aparecida ainda não foi desta. Bastou injecção do BCE e olhos em bico abrindo a caixa registadora da loja dos trezentos. E um quarto de hora antes da coisa, lá podemos saltar barreiras no tejadilho da carripana. O bafo quente do jardim faz crescer anonas e saltar coelhos que não andam a passos...

 

Só ganharemos todos, quando o todo nos puder mobilizar, em cada um, pela autonomia moral, em que deve assentar a própria procura da riqueza.

 

Capitalismos, há muitos! O estadualizado, nosso, banco-burocrático, não pode continuar a ser o unicitário. Prefiro a fisiocracia do "laissez faire", segundo a lei natural e a própria lei divina. Logo, sou mais girondino do que jacobino, mais liberal do que socialista, mais "whig" do que "tory". Em linguagem da Parvónia, é o político longe da sacristia e da cavalariça...onde a primeira não é religião e a segunda não é a tropa...

 

Quando nos deixamos violentar pelo estadão, corremos o risco de não ficar apenas um pedacinho grávidos, neste ambiente hermafrodita, de muitas barrigas de aluguer. A metáfora-base não é minha, é do pai do "Wirtschaftswunder", um tal Ludwig Erhard...

 

Há muitos intelectuários que se prestam a servir de flores da botoeira de certa pirataria.Tal como muitos partidocratas que procuram emprego como feitores de ricos. Sou pela separação de poderes e contra a compra da política pela dita economia, com muita indignificação do trabalho, dependente ou independente.

 

Até o velho Marshall denunciava os chapéus de coco com alma de corsário. Logo, um liberal pode espreitar como no jogo da bolsa de hoje, muita banca, que o não devia ser, logo recuperou, à custa dos impostados de hoje e de amanhã...

 

 

Daqui a cem anos, quando candidato da presidencial situação for nota pé-de-página da história e quando o candidato oposicionista, mas da governamental situação, continuar a ser cantado, todos poderão concluir como andamos mesmo desafinados, só porque pusemos tocadores de rabecão a fazer de sapateiros, pondo os pés em lugar da cabeça..

publicado por José Adelino Maltez às 16:09

12
Jan 11

Um tal de Arend Lijphart salientou a existência de modelos de estabilidade política com multipartidarismo, como nos países escandinavos, contrariando o pressuposto, segundo o qual o modelo bipartidário seria o único existente em sociedades politicamente estáveis, como aconteceria nos países anglo-saxónicos. Assim, distinguiu um multipartidarismo integral de um multipartidarismo moderado, ou temperado, pela existência de alianças estáveis e coerentes, porque grandes coligações, que apresentassem aos eleitores uma plataforma comum e que actuassem concertadamente no parlamento, modificariam profundamente o multipartidarismo. E quando se desse o dualismo das alianças até poderia cair-se num modelo quase bipolarista, a chamada bipolarização.

Segundo o mesmo Lijphart, a democracia consociativa é a característica das sociedades pluralistas, onde há profundas divisões religiosas, étnicas, linguísticas e ideológicas, em torno das quais se estruturam as diversas organizações políticas e sociais, como os partidos, os grupos de interesse e os meios de comunicação. Porque as clivagens podem gerar uma espécie de compromisso democrático entre os vários pilares sociais e políticos do sistema, como sucede no caso holandês e suíço. Uns séculos antes, um tal deAlthusius considerou que a consociação civil apenas surge, quando se sai da família, quando se sai fora dos edifícios onde existe o poder doméstico e se entrana cidade para tratarmos dos assuntos públicos em vez dos domésticos, tarefa que não cabe aopaterfamilias ou ao senhor, mas antes ao sócio e aocidadão. o poder doméstico, uma forma de poder pré-político, forças cuja fonte ou origem se situa antes ou fora do dominium politicum, pertencendo aodominium servile ou à potestas dominativa ouoeconomica. Era assim com o poder do dono. De facto, não era política a relação que o paterfamilias, o chefe da casa, o despotes dos gregos ou o dominus dos romanos, mantinha com os respectivos dependentes, desde os parentes aos escravos.

 

A política só aparece quando se ultrapassa doméstico, pelo que o príncipe, o chefe político, não é apenas mais um dono e nem sequer pode ser considerado como um substituto do pai. Sim! A vontade geral da democracia foi substituída pela soma das vontades interesseiras de cada um, sempre habilmente manipuladas pelos permanecentes corporativismos de uma oligarquia sedenta de vingança, em cujas teias continuam a manobrar várias redes de gente sedenta de cheques.

 

Ora, quando a política é usurpada pelo doméstico e o espaço público se rebaixa aos níveis da casota, é inevitável que o aparelho Estado seja dominado pelo mercado da compra e venda do poder, com os profissionais da política a tornarem-se cada vez mais profissionais da pulhítica e cada vez menos políticos. Desta forma, regressam os fantasmas do absolutismo, bem presentes quando aquele que faz a lei, decide não cumprir o que a mesma determina, e trata de emitir ainda mais leis para que nenhuma se cumpra, por causa da elefantíase, de maneira que os bons e sábio juízes, para poderem administrar a justiça, são obrigados, muitas vezes, à necessária fraude à lei. Porque a lei é inferior ao direito e este depende sempre da justiça.

publicado por José Adelino Maltez às 21:41

08
Jan 11

Algumas candidaturas que por aí campanham ainda não repararam que, no maquiavelismo conselheiral do que parece e não é, o tacticismo do curto prazo, acaba por ser, de um dia para o outro, além de má moral, pior política. Sobretudo num ambiente que volta a ser enredado pelas esquerdas e pelas direitas mais estúpidas do mundo. Até emergiu uma esquerda que convém à direita e que, caso não existisse, teria de ser inventada, para rimar com a hipocrisia de um tempo global, onde principais gestores do capitalismo internacional, do FMI ao BCE, são ilustres figuras do socialismo. Se me considero totalmente esclarecido com aquilo que Alegre disse sobre o agenciamento de homens das letras e das artes, à boa maneira do recrutamento da socialite para a comunicação social do cor de rosa, também estou inteiramente elucidado sobre aquilo que Cavaco vai dizendo, depois de proclamar que, aos costumes, apenas dirá o nada. Ambos caíram na mesma esparrela. Mas juro que, se era capaz de confiar a minha carteira a Cavaco, já não mandava Alegre verificar as próprias contas e jamais me depositaria junto de antigos e presentes amigos políticos do primeiro, tal como acho que certos propagandistas do segundo não têm futuro nem aquele pretérito perfeito de um Abril cumprido, com 25 de Novembro na hora certa. As rodas do carro da política deixaram de rodar em torno do eixo do bem comum e todos nos vamos enrodilhando na esquina, a mexer na concertina. O Zé Povinho, fingindo-se adormecido, apenas está enjoado de tantas más acções. Vencer pode voltar a ser o ser vencido.

publicado por José Adelino Maltez às 16:10

07
Jan 11

Do episódio das Pudley/BPP, apenas retiro que há agências de recrutamento de homens das artes e das letras que funcionam como as que promovem a socialite das revistas cor de rosa. Para que os primeiros dedilhem contra os nichos de mercado das ditas tias de Cascais e da Foz do Douro, com os seus eventos, a contado...

 

Se as primeiras continuarem a ser a esquerda e as segundas, a direita, compreenderei melhor a decadência...

 

Da direita que convém à esquerda, do vice-versa e do vira o disco e toca o mesmo, sempre à esquina, a mexer na concertina...

 

Considero-me totalmente esclarecido com aquilo que, ontem, Alegre disse na RTP. Fiquei hoje totalmente elucidado com aquilo que Cavaco disse na TSF. Ambos caíram na mesma esparrela. Ambos perderam.

 

Infelizmente, há por aí muitos restos das direitas e das esquerdas mais estúpidas do mundo. Alguns conselheiros de certa direita cobarde ainda são arrependidos da extrema-esquerda de que sempre desconfio. Até porque andam de braço dado com os tradicionais inimigos: os agentes do fanatismo, da ignorância e da tirania!

 

Nunca deixarei de atribuir a Alegre a dimensão do pretérito perfeito de um Abril que vai de Salgueiro Maia a Melo Antunes, com Jaime Neves na hora certa. E não deixarei de resistir aos tropas que não quiseram cumprir a voz do povo, medida pelas eleições livres de 25 de Abril de 1975 e aos que sempre nos instrumentalizaram para um regresso à ditadura

 

Cavaco e Alegre, bem como ilustres apoiantes dos mesmos, estiveram na mesma barricada a 25 de Novembro de 1975. Por favor, não deixem que a liberdade conquistada por valores mais altos, possa ser enredada pelas conveniências populistas, arrivistas e demagógicas, de que só beneficiarão os inimigos da democracia, à direita e à esquerda.

 

Confesso que eu próprio nunca poderia ser actor político, porque faço tantas confusões de verificação de contas como Alegre. Confesso que também era capaz de confiar a minha carteira a Cavaco. Mas nunca confiarei politicamente nalguns dos propagandistas recentes de Manel. E jamais confiaria a minha carteira a antigos e presentes amigos políticos de Aníbal.

 

Ouvi e vi o comunista da Madeira, vestido de Tiririca, que teve a coragem de se mostrar inteiro. Espero que os controleiros constitucionais das magistraturas tenham feito adequado registo, para os devidos efeitos. É tudo bem mais grave do que as Pudley e as compras e vendas de acções de Aníbal

 

Os casos que atrapalham Alegre e Cavaco são desses normais-anormais que cabem ao jornalismo de investigação. E por acaso foram por ele descobertos, em quase todos os contornos. Só que agora há os altifalantes de campanha, agitados pelos dos respectivos campanheiros e deputados, em agitprop, dita publicidade. E os publicitários políticos são sempre uns exagerados.

 

Não desconfio minimamente de Cavaco e de Alegre enquanto pessoas. Todos confirmam como meteram os dois o ilustre pé no lodaçal de um novo tempo político já sem a grandeza de outras eras. Outrora, ninguém atacou Soares com os argumentos do livro de Rui Mateus e muito bem.

Muitas entradas de leão, algumas saídas de ... rasteiro, nestes soldados da política que não se desviaram de certas minas, de alguns desvios de armamento e de ataques furtivos, típicos da guerra subversiva. Não dá o bate e foge das auditorias a que só alguns têm acesso e todos podem saber porquê.

 

Alerta de tsunami. Querem tapar as fendas de muitos gigantes com pés de barro, depois de utilização de bombardeiros para afastamento de nuvens de insectos. Os pássaros apenas caíram por causa do fogo de artifício. Mas em Lisboa já troveja.

 

Para os que não podem espreitar Plutarco, aqui deixo o título das três obras: "Como Distinguir um Adulador de um Amigo" (leitura obrigatória entre os habituais sindicatos de elogio mútuo, como na política e na universidade), "Como Retirar Benefícios dos Inimigos" (de grande utilidade nas presidenciais) e "Acerca do Número Excessivo de Amigos" (sobretudo para agências internéticas de criação de listas).

publicado por José Adelino Maltez às 16:12

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Bem mais de meio século de vida; quarenta e dois anos de universidade pública portuguesa; outros tantos de escrita pública no combate de ideias; professor há mais de trinta e cinco e tal; expulso da universidade como estudante; processado como catedrático pelo exercício da palavra em jornais e blogues. Ainda espera que neste reino por cumprir se restaure a república
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Como dizia mestre Herculano, ao definir o essencial de um liberal: "Há uma cousa em que supponho que ate os meus mais entranhaveis inimigos me fazem justiça; e é que não costumo calar nem attenuar as proprias opiniões onde e quando, por dever moral ou juridico, tenho de manifestá-las"......
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