Um ilustre político lusitano acaba de proclamar na televisão que, desde 1383 até 1974, não houve em Portugal nenhum movimento popular, com pessoas, não dependente daquilo que diz serem instituições. Aconselho-o a ler o mínimo sobre a Restauração de 1808 e depois a dar um salto até à Maria da Fonte e à Patuleia. Pode começar pelos relatórios de José Acúrsio das Neves...
Convinha que alguns dos nossos educadores do proletariado televisivo estivessem à altura desses inventores da guerrilha que, peninsularmente, foram o princípio do fim do usurpador, onde desde os maçons do Conselho Conservador a toda a rede eclesiástica se uniram pela pátria. Como, contra o cabralismo, se federaram miguelistas e setembristas numa verdadeira identificação nacional que alguma classe política traiu na Convenção do Gramido.
Por mim, orgulho-me destes movimentos populares que nos deram pátria no Portugal Contemporâneo. Se alguns dos membros da actual política não repararam nisso, tenham a humildade de o aprender. Mas não digam asneiras, nem deseduquem a verdade da nossa resistência! Revolto-me!
De facto, há muita gente a julgar que Olhão da Restauração tem a ver com 1640. Não! Tem a ver com aquilo que devia ser comemorado em todo o lado como a nossa Restauração de 1808. Nem Goya os faz associar isso a idêntico movimento que deu origem às Espanhas contemporâneas e à consequente aliança peninsular que se estabeleceu contra um inimigo comum, onde os doceanistas são os nossos vintistas e onde os "mártires da pátria" não são mera fantasia. Se eu fosse influente obrigava esse político a ir até ao jardim do Campo Santana e a ler, um a um, o nome dos que aí foram assassinados em 1817. Para que repetisse um a um tais pessoas na televisão e nos pedisse desculpa a todos.
A nossa falta de cultura de resistência só pode entender que o nosso 1789 foi 1808 contra os usurpadores de 1789. Foi dessa liberdade que nasceram os doceanistas, os da Revolta de Cádis, e os vintistas, os de 24 de Agosto de 1820. Com o Sinédrio pelo meio, vingando a morte dos mártires da pátria e de Gomes Freire, em 1817. A Primeira República ainda aviva a verdade. A viradeira salazarista ocultou-a e certa ala do 28 de Maio que permaneceu no 5 de Abril preferiu ler Lenine.
Não o quero insultar, nem o identifico aqui. Porque sei que ele tem boas intenções mas talvez falta de informação. Mas indigno-me, porque é assim que nos desnacionalizam. E eu nunca admitirei que o façam com o meu silêncio. Porque, desta forma abrimos as portas aos patriotorrecas...
1789 era uma revolução à inglesa, com rei e parlamento, antes do Terror e de Napoleão. Prefiro conjugar a libertação de forma pós-revolucionária, vintista, cartista, cincoutubrista e vintecincabrilista. Porque as revoluções são sempre pós-revolucionárias: medem-se pela estabilidade democrática que nos proporcionaram em liberdade, pluralismo, tolerância, pouca ignorância e nada de tirania.