Registo de algumas análises, farpas e aforismos no Facebook de José Adelino Maltez

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Jun 11

Não gosto de expandir intuições imediatas, mas dentro de mim já se formou uma convicção sobre o tempo de vida deste governo e do que lhe vai suceder. Vamos ter grande coligação com o PS, tenho a certeza, o quando depende de campeonatos diversos da política doméstica. O tipo de escolhas dominantes nos secretários de Estado, entre tarimbeiros no lastro e velas quixotescas ao vento, serve para a bolina, mas não dá rota.

 

Partidos, há tanto tempo na oposição, deveriam ter uma ideia, sector a sector, e um programa com programas. Essa de na véspera fazerem estados gerais com independentes ou novas fronteiras com propaganda é má conselheira. E de se julgar que esta tudo em dois ou três livros de autor, com folclórica apresentação em jogos da taça das cidades com feira pode levar a autogolos, mesmo que seja em canto directo...

 

Se, por exemplo, nomeássemos um ex-bastonete dos abacates para secretário de estado da superação das PPPs nos transportes e comunicações poderia ser uma boa ideia quanto à renegociação de contratos...

 

Mas talvez eu esteja enganado... o problema da justiça em Portugal pode ser mera questão de assoalhadas e reabilitação urbana por causa da nova lei troikiana dos despejos...

O ministério politicamente mais forte é, sem dúvida e sem ironia, o da solidariedade e segurança social. Mota Soares e Marco António podiam inverter posições sem hierarquia prévia...

A equipa educativa é forte. A mais forte e coerente de todas. Pena terem que lidar com pesadas heranças e de, eventualmente, não terem jeito para a necessária acção bombeiral...

A equipa das finanças tem alguma modéstia na sua firme qualidade. O único drama é o Estado ser bem diferente do Banco de Portugal em termos de gestão de recursos. Mas sempre podemos trocar de ambiente. Infelizmente, não pode ser por decreto.

Há muito secretário de Estado com tentação mediática. Convém recordar-lhes que pela boca morre o peixe.

Governar não é "uma sequência finita de instruções bem definidas e não ambíguas, cada uma das quais pode ser executada mecanicamente num período de tempo finito e com uma quantidade de esforço finita" (definição wikipediana de algoritmo).

Aí está, novo governo, já inteirinho. Menos meia dúzia, em quantidade, que no anterior. Quase o mesmo, em qualidade. Excelentes currículos na minoria, óptimos activismos partidocráticos e empresariais na maioria. Naturalmente, vão, muitos, esta noite, alterar o “facebook”, para que não fiquem ligados a "interesses" como o "nespresso" e o respectivo líder...

 

Há um núcleo duro de grande qualidade, como nunca deixou de existir, até com Sócrates, mas torna-se evidente a nossa falha na formação de elites de Estado, principalmente em grandes escolas de quadros dos próprios partidos. Nada de novo nesta frente da direita. Está tão cinzenta como a revogada frente de esquerda. Marques Mendes acertou em todas e Marcelo Rebelo de Sousa lá fez das suas.

 

Convém insistir que, no anterior governo de Sócrates, havia uma dúzia de cidadãos de idêntica dimensão e que até conseguiram não perder a autenticidade. Mas ainda bem que há quem tenha a coragem de arriscar no serviço público. Temo que, depois da mobilização do estado de graça, as promessas sejam vencidas pela habitual força da inércia, como já se tornou patente com o número e na estrutura da novamente velha governança. Só há instituições com prévias ideias de obra e estas precisam de ser previamente trabalhadas com fé e humilde estudo.

 

Esperemos que os chefes deste governo sejam mais como o Paulo Bento. Entrem logo a jogar no risco, sem prévio treino. Para que voltemos a ter equipa de todos nós. Até porque, infelizmente, estamos muito dependentes dos jogos dos outros.

 

É evidente que não é, das rápidas análises das autocontemplações curriculares, que podemos fazer adequada avaliação no imediato. Vai ser mais interessante o escrutínio a que irão estar sujeitos. Especialmente por parte de opositores que sofreram esse tipo de exame e que moverão intensamente o bisturi da informação privilegiada para a adequada vindicta...

 

Mas os pesquisadores de perfis ainda não identificaram coisas tão sublimes como a da eventual pertença dos nomeados a entidades místicas como as igrejas protestantes, as obediências maçónicas, o sionismo, as irmandades católicas, as associações recreativas, os anteriores entusiasmos maoístas ou a posição que muitos tomaram no anterior referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez. Da mesma forma, seria imperioso elencar os que são indefectíveis de Pinto da Costa, quantos torcem pelo glorioso e os eventuais sócios da Briosa. Os cartões laranjas e portistas não chegam!

 

Há, aliás, maçons, de várias obediências maçónicas, que são deputados e ex-deputados, bem como entre actuais e ex-governantes. Mas há muitos outros, que estão de fora e que se celebrizam por declarações antimaçónicas, com real mercado nas parangonas. Sobretudo se estiverem à esquerda. Daí voltarem à ribalta com um problema de falsa consciência, para uso de suas desventuras no PS e no PSD!

 

Para mim, bastava uma dinâmica fotografia dos grupos de interesse e dos grupos de pressão que dependem da subsidiocracia estatense e da habitual empregomania.  Sobre as outras identificações místicas, julgo que o nosso jornalismo comentarista está especialmente desinformado, até tropeçar no primeiro dos sensacionalismos e entrar em vómito analítico sobre o que é óbvio. Obviamente, numa sociedade pluralista, há de tudo. E ainda bem!

publicado por José Adelino Maltez às 15:21

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Bem mais de meio século de vida; quarenta e dois anos de universidade pública portuguesa; outros tantos de escrita pública no combate de ideias; professor há mais de trinta e cinco e tal; expulso da universidade como estudante; processado como catedrático pelo exercício da palavra em jornais e blogues. Ainda espera que neste reino por cumprir se restaure a república
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Como dizia mestre Herculano, ao definir o essencial de um liberal: "Há uma cousa em que supponho que ate os meus mais entranhaveis inimigos me fazem justiça; e é que não costumo calar nem attenuar as proprias opiniões onde e quando, por dever moral ou juridico, tenho de manifestá-las"......
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