Lembro-me de ter dissertado, na dita tese de doutoramento, numa coisa titulada "ensaio sobre o problema do Estado". E recordo o subtítulo "Da razão de Estado ao Estado-Razão". Chamaram-me poeta. E com propriedade profética. Foi feita ao mesmo tempo que caía o Muro. Mas continuaria a subscrever noventa por cento.
O Estado, desde que Maquiavel inventou o nome, sempre esteve de acordo com a etimologia: uma forma substantivada (estado) derivada de um verbo (stare). Quando se tentar captar a coisa, ela foge-lhes por entre os dedos analíticos goza quem nem uma perdida
O melhor Estado do mundo ocidental, isto é, aquele que até pode ser império com o "free trade", teve sempre uma pequena vantagem: nunca teve o conceito de Estado. Por cá, no manual de OPAN, ele sempre foi "a nação politicamente organizada". Isto é, música celestial para o tradicional conto do vigário.
O Estado é a medida de todos os discursos políticos, confundindo-se quase sempre o Estado-Aparelho de Poder com o Estado-Comunidade. E depois, até nos comparam com os States, não reparando que aí há mesmo comunidade, ou com o British, não tendo aprendido que aí há mesmo Establishment. As corporações caseiras agradecem o provincianismo destes "naïfs". Comem-nos na primeira conversa de factos. E sem molho.
Não há governo do nosso último quarto de século que não tenha proclamado reduzir o Estado. Na prática, o aparelho deglutiu e discurso e cresceu até à custa de tal discurso. Seria conveniente notar que o Estado é um problema que só se resolve quando se tiver uma ideia dos Estados dentre do Estado e além do próprio Estado. Ele não é uma coisa, é uma relação e, consequentemente, uma ralação...
Dos piores gestores e dirigentes da administração pública que eu conheci, e conheço, estão alguns dos mais encartados reformadores das engenharias das pretensas reformas da coisa e que nisso vão mantendo emprego em regime de cogumelos venenosos. Os mais fracassados são os idiotas úteis que acreditam neles e os chamam para as engenhocas legiferantes.
Não há governo do nosso último quarto de século que não tenha proclamado reduzir o Estado. Na prática, o aparelho deglutiu e discurso e cresceu até à custa de tal discurso. Seria conveniente que o Estado é um problema que só se resolve quando se tiver uma ideia dos Estados dentre do Estado e além do próprio Estado. Ele não é uma coisa, é uma relação e, consequentemente, uma ralação...