O regime da extorsão para taparmos os buracos do BPN, das rodovias, da Madeira, das ventoinhas, das parcerias e do financiamento clandestino aos partidos, continua a insistir nas mesmas vítimas: jovens com esperança de início de vida, trabalhadores que tiveram o Estado como patrão, velhos e todos os que acreditaram nas instituições de serviço público, até como companhia de seguros a que se pagaram prestações. As abstenções contam como votos a favor.
Não se vislumbra, entre os principais ministros e os principais oposicionistas, alguém que tenha tido carreira pública, conseguida com concursos públicos. Os que podem invocar a qualidade, só a consideram remanescente e acumulativa. Espero que a presidente do PS, uma excepção à presente regra, lhes faça recordar que sempre existiu um partido dos competentes contra o partido dos fidalgos, velhos e novos, no Portugal Contemporâneo. Pena que os becas e os tropas, dois dos subsistemas do público, já não tenham força.
A revolta não virá dos proletários, dos jovens indignados, da classe média ou da mera federação de classes organizadas. A revolta virá dos que, um dia, perceberão que não podem continuar a comer gato por lebre, quando descobrirem que o Estado a que chegámos não é uma pessoa de bem, mesmo que pessoas de bem, por incompetência, pensem que o estão a comandar, quando apenas são agentes do rolo unidimensional que nos esmaga.
Comparemo-nos com França. Até aquele filho de "pieds noirs" com nome de parte dos países baixos que vai comandar a esquerda é mais um dos altos funcionários públicos enarcas. Aqui contentamo-nos com quadros recrutados por favor de certos grupos económicos e com jovens políticos das universidades de verão das jotas...
O nosso drama continua a estar na falta de adequados olheiros e seleccionadores de elites, os principais reveladores da falta de organização do trabalho nacional. Logo, comandam os compadres e as comadres do país oficial da partidocracia, com um ou outro deslumbrado que vive nas nuvens e acede por acaso às operações triunfo e chuva de estrelas que precedem o recrutamento das ministerialidades e dos assessores do Estado Paralelo dos gabinetes governamentais, onde se diluem entre os candidatos jotas a políticos profissionais.
O Xico, o Catrino e o Cuecas mandam. O mandão, o geronte e o clandestino juntam-se os três à esquina e vão sacando tudo quanto corre e não se regista. E em torno da trindade se gera corte, rede, tentáculo, de não transparência e de não reforma. Mas discursam sobre transparência e reforma. Mandam. Para que tudo fique na mesma. Isto é, cada vez pior. Um é da nova senhora, outro, da velha, e o terceiro, modelo do serviçal e do trabalho sujo, de todos os regimes. Os nomes são ficcionados, mas são reais, entre todos os Estados dentro do Estado que continuam a facturar, através da clandestinidade privatizadora que está a destruir o público.
Se tê meteres na boca do lobo, fica sabendo que o mesmo, caso não morda, manda sempre alguém para te debicar no lombo. Não matam, porque já não podem matar. Mandam apenas moer, par que nos calemos. Continuo a frequentar o pulo do dito. E também sei farpar. Ah! Ah! Eles ainda caem. E não reparam que não têm o monopólio da coisa.
Nada melhor do que o espelho, dos gestos, e o gravador das palavras. O raio dos arquivos mortos dão cá um tombo na consciência!
Gaspar vai emitindo suas previsões oficiais, entre certezas numéricas de meras conjecturas, usando metáforas como pilares e antecâmara, mas sem adequado enquadramento simbólico, num exercício de financeiros passos perdidos. Que não se engane, nem nos engane, por amor de Deus!
Hora e meia de tempo de antena do poder troikado. À velha maneira de Chávez ou de Fidel. Preferia o Samora. E os glosadores dizem que o problema está entre o que está e o que esteve, quando o que está ascendeu porque disse que, depois de aprovar o essencial, não aprovaria o pormenor de mais um pacote. Agora chega a enxurrada silogística, assente na falácia de a bolsa ou a vida, mas com roleta russa.
Quando me aparece na pantalha o dr. João Salgueiro, me alembro de quando era menino e moço e o vi subsecretário do planeamento de Marcello Caetano, prometendo em sua ideologia SEDES prometer a média do desenvolvimento da Europa no ano dois mil. Continuamos à espera do milénio. Isto é, a pagar para promessas por cumprir.
Vivemos sob o primado das circunstâncias, isto é, em estado de sítio. Porque o soberano é aquele decide, fundamentando-se no extraordinário da "salus populi, suprema lex". O problema está em sabermos qual a razão que leva o estadão a ter contactos directos e imediatos com tal divindade. Ainda por cima, iluminado por vontade estranha.