Sou um velho tradicionalista com uma experiência rica de vivências daqueles a quem chamam antiquários, não viesse eu da maternidade coimbrinha e da nostalgia das baladas, num tempo de crepúsculo, quando vivi a tragédia do fim de um império que era medido em fronteiras, formal soberania extensão de terras e quintarolas. Até assisti à ilusão da descoberta de um novo mundo e que agora parece desfazer-se nos feijões fungíveis das unidades de conta do macromonetarismo.
Continuo a pertencer à irmandade dos velos crentes que não confundo os pretensos sinais exteriores de riqueza de espírito, a que se disfarça em hábitos, borlas, balandraus e capelos, com o mistério íntimo da convicção e que não se confunde com catecismo, dogmas e inquisidores. Por isso, odeio os bailados agressivos do sectarismo e os choques animalescos da lei da selva de congreganismos e anticongreganismos, em manobras de teoria da conspiração, sessões celulares de purgas ou meros confrontos de claques.
Guardo no corpo e na alma várias cicatrizes da persiganga, publicamente certificáveis por decretos e sentenças e, pela via testemunhal, posso comprovar pretéritas e presentes excomunhões. Daí que reconheça a fraqueza das vitimizações, porque prefiro a superioridade das conquistas por adesão dos que confessaram o erro de se deixarem influenciar pelos eternos inquisidores e mestres na arte diabólica da manipulação dos preconceitos, dos fantasmas e dos cacetes decretinos. Não há pior besta do que aquela que, praticando a intolerância, o fanatismo e a ignorância, se disfarça com discursos de humanismo, fidelidade e humanismo, mas que recruta jagunços que lhe fazem o trabalho sujo dos medos, das conspirações e da persiganga. A nossa crise é que, mesmo em decadência, eles continuam no revisionismo da história dos vencedores.