Há ilustres hierarcas que hoje constituem o espelho da nação, cujos currículos são os melhores reveladores da banalidade do bem que faz caricatura da falta de sentido de serviço público em que nos vamos degradando. Esta farsa ambulante de criadores de eventos que geram sucessivos perfis e cartões de visitas, com muitas assessorais governamentais, ministeriais, culturais e autárquicas, sempre à custa da mesa do orçamento, seriam anedota saborosa no tempo do cavar batatas e do ensinar a minhoca a pescar. Agora, os emplastros apenas causam vómito.
Dei uma saltada aos nossos livreiros "on line" e confirmei que o meu "Abecedário Simbiótico" está na estante da "Religião, espiritualidade e auto-ajuda". São simpáticos. Até poderiam dar um novo nome à coisa, o de bruxaria e ciências ocultas, na estante da geometria. Se o prefácio fosse de um marinheiro, iria, naturalmente, para a secção de "Desertos e alpinistas".
Anuncia-se a transferência de vários vassoureiros ortodoxos do Belenenses para equipa dos cristãos nigerianos. Noutro dia, numa das nossas televisões, estes nigerianos eram reduzidos a católicos, tal como as reportagens de 25 de Dezembro sobre as comemorações do Natal cristão em Atenas e Moscovo. A ignorância manifestada pelos tradutores de telegramas internacionais em matéria religiosa é um verdadeiro susto e o principal motivo para ressurgências fundamentalistas. É que nem sequer se dão ao respeito com tanto etnocentrismo...
Este tempo de descanso, somado ao escasso tempo de descanso que os deputados tiveram no Verão, ainda não perfaz um tempo anual normal de descanso. Foi só por isso que o Parlamento parou: todos estávamos a precisar de descansar um pouco. Não vamos estar com demagogias e dizer que fomos fazer outras coisas. Fomos descansar e usar o descanso a que temos direito.
Atingimos a dimensão etimológica da histeria grega, conforme o preconceito machista de chamar à coisa "útero na cabeça". Isto é, se fosse tecnicamente possível um golpe de Estado, todos sorririam se ele se desencadeasse, incluindo os que por ele fossem decapitados. Odeio tanto a putrefacção como um acto de violência pré-político. As decadências, como esta, têm, pelo menos, uma vantagem: permitem que alguns se arrependam da cobardia da abstenção cívica com que se desleixaram. Eu quero apenas correr o risco de o declarar e de prever que a decadência ainda vai durar muito tempo.