O laboratório mais antigo de quem pensa a política continua a ser a longa guerra civil romana que opôs os cesarianos António e Octaviano aos republicanos Brutus e Cassius, com Cleópatra pelo meio. Claro que sempre torci por Cícero contra o concentracionarismo de César e a emergência do principado e do império. E julgo ter compreendido a causa da queda da república romana: quando as instituições se enredaram em aristocracias possidentes e oligarquias de privilegiados e os cesarianas passaram a aliar-se à dinâmica da revolta popular e à instrumentalização da abstracção pátria.
publicado por José Adelino Maltez às 13:46
Há antigos ministros das finanças que só politicamente existiriam porque foram ajudantes de políticos como Soares e Santana, que percebiam tanto de finanças como Cristo, apesar de terem biblioteca. Quem neles se vicia corre o risco de entrar no desespero dos meios, sem perceber que eles só existem se permanecerem os fins, nomeadamente coisas como crenças, nações e humanidade. Só engenheiros de sonhos políticos, dotados de um mínimo de patriotismo científico nos podem despertar. As únicas ideias que valem a pena são as ideias pelas quais se está disposto a morrer. E as pessoas só morrem por aquilo que amam. Ninguém morre por ministros, contabilistas, comentadores e treinadores de bancada.
publicado por José Adelino Maltez às 13:46
Sou um velho tradicionalista com uma experiência rica de vivências daqueles a quem chamam antiquários, não viesse eu da maternidade coimbrinha e da nostalgia das baladas, num tempo de crepúsculo, quando vivi a tragédia do fim de um império que era medido em fronteiras, formal soberania extensão de terras e quintarolas. Até assisti à ilusão da descoberta de um novo mundo e que agora parece desfazer-se nos feijões fungíveis das unidades de conta do macromonetarismo.
Continuo a pertencer à irmandade dos velos crentes que não confundo os pretensos sinais exteriores de riqueza de espírito, a que se disfarça em hábitos, borlas, balandraus e capelos, com o mistério íntimo da convicção e que não se confunde com catecismo, dogmas e inquisidores. Por isso, odeio os bailados agressivos do sectarismo e os choques animalescos da lei da selva de congreganismos e anticongreganismos, em manobras de teoria da conspiração, sessões celulares de purgas ou meros confrontos de claques.
Guardo no corpo e na alma várias cicatrizes da persiganga, publicamente certificáveis por decretos e sentenças e, pela via testemunhal, posso comprovar pretéritas e presentes excomunhões. Daí que reconheça a fraqueza das vitimizações, porque prefiro a superioridade das conquistas por adesão dos que confessaram o erro de se deixarem influenciar pelos eternos inquisidores e mestres na arte diabólica da manipulação dos preconceitos, dos fantasmas e dos cacetes decretinos. Não há pior besta do que aquela que, praticando a intolerância, o fanatismo e a ignorância, se disfarça com discursos de humanismo, fidelidade e humanismo, mas que recruta jagunços que lhe fazem o trabalho sujo dos medos, das conspirações e da persiganga. A nossa crise é que, mesmo em decadência, eles continuam no revisionismo da história dos vencedores.
publicado por José Adelino Maltez às 10:17