O melhor desta campanha eleitoral esteve na circunstância de nos podermos relembrar do mais aliciante da democracia: o podermos fazer um golpe de Estado sem efusão de sangue, através do bom uso do poder de sufrágio. Mas, como antes de qualquer mudança (“perestroika”) tem de haver transparência (“glasnot”), eis que muitos não souberam lutar adequadamente contra a corrupção e o indiferentismo que continuam a sitiar a cidadania, impedindo que a honra volte a casar-se com a inteligência, para que possamos viver como pensamos. E assim nos enredámos em sucessivas campanhas negras onde quem atirou pedradas aos telhados de vidro do vizinho acabou com os seus estilhaçados. Pior do que isso: em vez da defunta luta de classes, tiraram do caixote de lixo da história as velhas técnicas inquisitoriais, dos moscas e do bufos, em nome daquele maquiavelismo que admite todos os meios para que se alcancem quaisquer bons fins, onde tenha razão quem vence. Talvez tal literatura de justificação não tenha reparado que quem parece ter razão, no curto prazo, mesmo que se sirva de uma má moral, pode acabar por também a perder no médio, assim se confirmando que tal expediente também é uma péssima política. Mesmo que, longo prazo, estejamos todos mortos. Daí que vencer também possa equivaler ao ser vencido.