Registo de algumas análises, farpas e aforismos no Facebook de José Adelino Maltez

09
Jul 11

Lá se confirma o regresso ao normal anormal da nossa pobreza. A história de Portugal, sempre foi a história do défice, como confirmou Armindo Monteiro na sua tese de doutoramento sobre o orçamento. Só que, para citar o mesmo mestre, de vez em quando, consideramos a história como o género literário mais próximo da ficção...

Em ciclos de megalomania, quando deixamos o tudo e caímos no seu nada, entra em cena certa esquizofrenia do contraciclo. Quando mantemos ditaduras em tempos de democracia, construímos impérios coloniais quando os vizinhos correm pata a integração europeia ou quando fazemos revoluções socialistas em horas de revolução conservadora.

Modernizados pelo sonhar é fácil do socialismo de consumo e aderindo ao socialismo para aumentarmos desmesuradamente o número de proprietários, ficámos quase todos servos da gleba hipotecária, nessa rasteira que nos foi passada pelo compromisso social-democrata de patos bravos, bancários e donos de hipermercados.

Resta-nos o recurso à velha moral austero de que nos falava Mouzinho da Silveira. O que é o exacto contrário do estadão em autogestão de programas e planeamentos. Sempre houve instituições intermediárias melhores do que o senhor ninguém, como é o caso da Igreja, como o tem sido das forças armadas e como já não o é o das universidades...

Megalomania é vivermos entre o tudo e o seu nada dos aparelhismos que subsidiam recordes no "Guiness", entre o oásis do bom aluno e os choques de cheques tecnológicos, enquanto a maioria prefere o chico esperto, de vale mais um pássaro na mão que dois a voar, porque enquanto o pau vai e vem folgam as costas...

Nãos cabe salvar a Europa ou refazermos a revolução perdida, acabando com a geofinança. Bastava copiar radicais e ex-guerrilheiros, como Lula e Dilma, que se submeteram para sobreviver junto do espírito do capitalismo democrático e do capitalismo humanista, lutando para vencerem a pobreza e gerarem auto-estima. E os brasileiros, continuando a amar o Brasil, já não o deixam...

Somos os melhores do mundo, em não sei quantas notas do Guiness, para podermos ser também a maior das desgraças, pelo menos desde que D. Afonso Henriques deu uma carga em sua mãe!. Estamos sempre entre o tudo e o seu nada. Basta ler a notícia que nada tem a ver com a ratação. Bolos destes sempre foram a medida de todas as coisas.

Antecipando a emissão, pela SIC, do documentário "Debtocracy" sobre a Grécia, considerado por "The Guardian" como "o melhor filme de análise económica marxista alguma vez feito", o presidente Cavaco tira argumentos aos bloquistas e aos comunistas, ultrapassa Boaventura Sousa Santos e o "Zeitgeist" e assume a ofensiva europeia contra as agências de ratação, considerando a "Moody's" como padecendo de ignorância.

Voltando ao ti António: "o plutocrata age no meio económico e no meio político sempre pelo mesmo processo — corrompendo. Porque estes indivíduos, a quem alguns também chamam grandes homens de negócios, vivem precisamente de três condições dos nossos dias: a instabilidade das condições económicas; a falta de organização da economia nacional; a corrupção política".

‎"E foi em nome da americanização que se instituíram o deutsche Mark, gerado pela ocupação americana, e o próprio Yen japonês. As três pessoas da tríade, estão, por dentro, unidas por uma neutra perspectiva circulatória… " (JAM 2002)

Desculpe o desfilar das memórias de um tempo em que eu dava as matérias que me apetecia dessa ciência dita não-ciência, só para notarem que não estou a ser oportunista. O manual foi publicamente editado pela Principia. No tal ano de 2002, recolhendo lições de anteriores anos lectivos. Por acaso dadas na Faculdade de Direito de Lisboa, para que não haja certas confusões.

Aos políticos megalómanos, aconselho humildade. Eles podem não ter o tal poder de nomeação que cria as coisas nomeadas. Julgam ter o monopólio da palavra, dizendo e fazendo crer que podem fazer o que dizem, mas a medição da falta de autenticidade pode gerar a revolta da frustração. Vale mais descobrir o silêncio do que vir a saber que não há paraíso (glosa a Bourdieu, com pitadas de ciência da política, da velha).

Adoro os treinadores de bancada. Com comentários de futebolítica, à segunda-feira em qualquer dia da semana. Só que o jogo ainda está no prolongamento. E em vez de eliminatórias, pode seguir-se o torneio de descida de divisão. A chamada liga de honra é efectivamente a segunda divisão. O Natal, aqui, não é quando o homem o quer. Já tem imposto extraordinário.

Coisa que não subscrevo sobre a moral em política: para fazeres o bem tens que não dizer a verdade ao eleitorado.

Nada há como um detonador que nos faça despertar. Diz quem sabe.

— Meu amigo, eu já lho disse, já lho provei, e agora repito-lho... A diferença é só esta: eles são anarquistas só teóricos, eu sou teórico e prático; eles são anarquistas místicos, e eu científico; eles são anarquistas que se agacham, eu sou um anarquista que combate e liberta... Em uma palavra: eles são pseudo-anarquistas, e eu sou anarquista (confissões de um agente da Moody's a Fernando Pessoa...)

publicado por José Adelino Maltez às 21:24

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Bem mais de meio século de vida; quarenta e dois anos de universidade pública portuguesa; outros tantos de escrita pública no combate de ideias; professor há mais de trinta e cinco e tal; expulso da universidade como estudante; processado como catedrático pelo exercício da palavra em jornais e blogues. Ainda espera que neste reino por cumprir se restaure a república
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Como dizia mestre Herculano, ao definir o essencial de um liberal: "Há uma cousa em que supponho que ate os meus mais entranhaveis inimigos me fazem justiça; e é que não costumo calar nem attenuar as proprias opiniões onde e quando, por dever moral ou juridico, tenho de manifestá-las"......
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