Depois da terceira votação do ano, onde o cair da folha não trouxe andorinhas nem terramotos, pode prever-se a manutenção da encruzilhada situacionista, com habituais serviçais sem espinha, subchefes medíocres e alguns idiotas úteis, torcidos pela bajulação da ditadura da incompetência. Até voltou, vergonhosamente, o assassinato político, tudo embrulhado pelas unhas aduncas da vindicta e as velas enceradas da ideologia. Poucos reparam que o movimento autárquico e a criação das regiões autónomas não eram bandeiras marcantes do programa inicial do MFA. Resultaram mais das acções dos homens concretos, quando a democracia ainda era criativa e parecia resistir à herança absolutista, centralista e concentracionária do estadão, o verdadeiro gerador dos caciques, patos bravos e engenheiros das redes de influência. Por isso convém sublinhar que as autárquicas são o momento mais politicamente mobilizante do regime, onde a maioria dos candidatos mostra querer servir e não servir-se, sem bem superiores à soma dos militantes activos de todos os partidos. Pena que esta energia comunitária se torne infuncional, face ao espartilho de uma atitude mental que prefere os códigos administrativos capitaleiros de Costa Cabral e Marcello Caetano, com os consequentes desertos cheios de betão e mato, à regionalização, que é privilégio dos Açores e da Madeira.