Uma maioria absoluta saída das legislativas de 2009 seria aconselhável num ano em que se agudizará a crise económica ou há outro caminho para alcançar a estabilidade política em Portugal?
Já tivemos maiorias, uma absoluta e outra quase absoluta, apenas dependente de uma fatia de queijo, que, de vitória em vitória, chegaram a uma derrota final a que se deu o nome de “tabu” ou de “pântano”. O problema é mais de geometria política e menos de aritmética de forças eleitorais. Por outras palavras, não é pelo facto de se reforçar o poder que se consegue a necessária autoridade que gera a obediência pelo consentimento
Na sua opinião, vê como provável o estabelecimento de alianças partidárias para chegar ou reforçar o poder? Quais são para si as mais plausíveis e/ou desejáveis?
Se Sócrates correr sozinho para a repetição da maioria absoluta, isto é, caso não desista de se assumir como candidato do PS a Primeiro-Ministro, isso significa que os respectivos estudos sondajocráticos lhe permitem estar à beira de conseguir repetir o feito das anteriores eleições. Nesta hipótese, tanto o PSD como o PCP não serão adeptos de qualquer tipo de aliança pré-eleitoral
A crise financeira e económica a fazer a economia entrar em provável recessão já no início do próximo ano vai ter reflexos no voto dos portugueses? Que resultados estima que esta tenha nas intenções de voto?
Julgo que o situacionismo governamental, caso a crise não se agrave, vai procurar manter no essencial o nível da bolsa do cidadão, porque, de outro modo, a respectiva vida estaria ameaçada
Como é que os portugueses irão encarar os actos eleitorais do próximo ano: haverá entusiasmo ou a abstenção é uma ameaça cada vez maior?
Tenho dito que o sistema político português, envelhecido e fechado na concha da partidocracia, já não se reduz ao confronto dos situacionistas, com os seus apoios, e dos oposicionistas, com as suas reivindicações. O principal “input” começa a ser o indiferentismo, que é bem pior do que a mera medição do abstencionismo, dado que se aproxima do gesto do “zé povinho”. Só que os governos lusitanos, principalmente em rotativismo, têm sabido durar em decadências sistémicas que às vezes duram mais de uma década. Veja-se, por exemplo, o que sucedeu à monarquia liberal, onde, depois do “Ultimatum” que a dessangrou, ainda durou duas décadas.
A marcação das datas das eleições legislativas e autárquicas (o PS prefere primeiro as legislativas e só depois as autárquicas, onde o PSD é tradicionalmente mais forte e por isso quererá aproximá-las o mais possível, fazendo-as coincidir, se possível) pode condicionar os resultados e a dinâmica das campanhas?
Como perspectiva a acção dos partidos da oposição no próximo ano? Acha que em 2009 conseguirão diminuir a vantagem face ao PS de José Sócrates?
Infelizmente, vão repetir as metodologias anteriores, elaborando cenários e consultando sondagens, porque acreditam que não haverá suficiente dramtismo para a deriva messiânica
Nas últimas semanas, as oposições internas têm-se notado com mais força, em especial no PS, no PSD e no CDS-PP. Isto justifica-se apenas pela proximidade dos actos eleitorais? Pode ter alguma influência nos escrutínios do próximo ano?
Todos os opositores internos dos partidos da oposição ao proclamarem a inviabilidade das respectivas lideranças estão a cair na armadilha que lhes lançou o situacionismo, cuja sondajocracia parece favorável a Sócrates.