Dito à bruta: as sondagens não conseguem acertar na abstenção. Mesmo que em dez portugueses, dois não sejam urneiros, poderemos dizer que o nosso problema político está nisto: há um dedo para o CDS, um para o PCP, um para o Bloco, dois para o PS e dois para o PSD. O dedo que falta é o decisivo, costuma passar do PSD para o PS e do PS para o PSD.
Dos nossos dez dedos, talvez só quatro é que trabalhem e um está desempregado, mas seis estão dependentes do aparelho de Estado. Infelizmente, os três a quatro dedos da emigração activa, praticamente, nenhum vota. Isto é, estamos deprendentes dos dependentes do ministerialismo.
A democracia não pode ser um jogo de soma zero, mas um jogo mobilizador, de soma variável. Logo, como quase todas as maiorias aritméticas parlamentares são socialmente minoritárias, só como lideranças regeneradoras e congregadoras pode haver governos efectivamente nacionais. Tenho esperança.
Não me apetece um governo desta direita, nem um governo desta esquerda. Serão sempre de esquerda com temperamento de direita, ou vice-versa. Prefiro um governo do centro excêntrico, contra o centrão mole e difuso que nos fez tornar indiferentes e permitiu a corrupção.
Odeio a cobardia das modas que passam de moda e estão sempre disponíveis para a saudação subserviente face ao vencedor. Porque só é novo aquilo que se esqueceu. E só há o verdadeiro fora do tempo. Mesmo que, normalmente, tenha razão antes do tempo.
Há, de certeza, homens de bem na meritocracia de Portugal que vão fazer pontes e talvez haja efectivas promessas de cooperação entre as principais forças políticas. Nem que seja um acordo sobre o que estão em desacordo, com cláusulas condicionais de cooperação. Foi assim que Soares e Mota Pinto nos governaram com Ernâni Lopes. A fórmula não vai repetir-se, mas pode inspirar
No preciso momento em que começa o dia de reflexão, estarei a votar com saudades de futuro.