Registo de algumas análises, farpas e aforismos no Facebook de José Adelino Maltez

04
Jul 11

Alguma estupidez jacobina e revolucionária não entende que o mais público que há em Portugal vem do horizontalismo dos vizinhos, de baixo para cima. Os de cima confundem a legitimidade do título com a legitimidade do exercício e pensam que o público pode expropriar o essencial da herança do que é comum...

 

Sobretudo aqueles que pensam que a legitimidade partidocrática é superior aos povos...

 

A herança efectivamente comunitária deveria primar sobre o burocrático. Pelo menos, deveria ser sagrado o direito a ser ouvida. Se matarem o comum, asfixiam a política em nome do Estado. Odeio este Leviathan tecno-burrocrático! Faz lembrar a estadualização dos baldios e terras do povo...

 

Quando uma escolinha é do povo, o ministério deve pedir autorização ao povo e não se esquecer que o mal do estadão também pode estar sentado na sede municipal...

 

O pensamento unidimensionalizador é mal da esquerda e da direita...

 

Todos os revolucionários e contra-revolucionários costumam esmagar as suas Vendeias e as suas revoltas dos Canudos...

 

Tenho uns avoengos que andaram no miguelismo, na patuleia, na revolta do Grelo e a defender o direito das águas contra as espingardas da GNR do salazarismo...aprendi nos genes em quatro gerações...

 

Sei o que é um concelho pluri-secular extinto pelo Estado em 1836 e temo que agora façam essa contabilidade com freguesias. Ainda tenho para aí a bandeira das velhas franquias anteriores ao Estado, incluindo das comunas sem carta, como Sardinha chamava às freguesias...É a nossa pátria! Mesmo que os banco-burocratas nunca o compreendam!

 

Também podem reler Alberto Sampaio: "As Vilas do Norte de Portugal" e "As Póvoas Marítimas do Norte de Portugal", uns anitos antes da República e de Sardinha!

 

Sou mesmo um comuna "avant la lêtre"...sobretudo contra o Estado Terrorista, assente no falso terrorismo do que decretam como razão...(estou a citar Albert Camus, descansem).

 

Em Portugal, Proudhon chama-se Herculano e Henriques Nogueira e traduz-se no programa de descentralização: é preciso que o país seja administrado pelo país...

 

Há determinadas luminárias que, olhando um qualquer relatório abstracto, concluiriam ser melhor encerrar a ilha do Corvo, pondo todos os seus habitantes num hotel de quatro estrelas. São os mesmos que concluiriam, naturalmente, pela inviabilidade e insustentabilidade da república dos portugueses. Esquecem-se apenas que quem resistiu aos piratas turcos foram os corvinos e não os ministeriais.

 

Há determinados ministeriais que, se fossem ao Corvo, se espantariam com o monumento que está na praça do respectivo campo de aviação. Por acaso, aos soldados mortos em nome de Portugal.

 

Essa emoção patriótica da minha ida ao Corvo só foi suplantada quando senti as orações em português na sinagoga de Amsterdão.

 

Terá sida a única, ou das poucas, que não foi destruída em território ocupado pelo Adolfo. Este terá cedido a pressão diplomática cá dos "hereges"...

 

Quem julgar que o modelo de desenvolvimento que nos levou ao desastre nasceu de um acaso e não de um erro deliberado de teoria e de estratégia, continuem a seguir as bruxas que não se arrependem nunca.

 

á certas luminárias capitaleiras como aquele professor nórdico bem antifascista com quem um dia me cruzei num colóquio na Horta. Estava a manifestar o seu repúdio pela circunstância de ainda haver salazarismo na autonomia dos Açores, porque tinha funcionado o parlamento regional numa coisa chamada "Amor de Pátria"...Eu bem lhe tentei explicar o que tinha sido essa do desembarque do Mindelo, mas no manual de preconceitos dele não vinha tal flexibilidade de software...

 

Enquanto os ministeriais não tiverem humildade de assumir que uma pátria é coisa de alma que vem das muitas pequenas pátrias, as tais pela história e pelo sonho são Portugal, mal vai a república!


03
Jul 11

Ouço Santana Castilho na SICN. Medito. Medito. Denuncia a opção pelo reforço da solução da directorocracia e da municipologia. Sente-se aterrorizado e denuncia a desonestidade política, com experiência própria. Tem a honradez de não entrar no rebanho elogiador do neoministerialismo. Por mim, são mais as coincidências do que que os acasos. Quase subscrevo tudo.

 

Eu, pessoalmente, não tenho razões de queixa. Nunca tive ilusões quanto a soluções ecléticas do "tudo ao molho e fé em Deus", no do pragamtismo do milagre de uma vitória eleitoral. Até porque já fui dirigido por quem agora nos sobredirige e reparei nas primeiras citações invocadas. Não uma, mas duas vezes. Até sei porquê. Já o experimentei, posso julgá-lo. É um erro básico de teoria.

 

Estou a referir-me a tudo. Sobretudo ao conservadorismo do programa do governo e à ilusão de venda do propagandismo de um só artista. A reforma só acontece quando houver correntes de ideias e equipas institucionais que queiram ir à estrutura. Essa do artista português era só para a pasta medicinal Couto.

 

António Sérgio e Leonardo Coimbra também foram ministros. Mas desses, do respectivo nível, estamo, não a milhas, mas a milhões de anos de luz.

 

Quer uma observação radical: este ministro veio da máquina. É a sua menina dos olhos lindos. Basta ver o currículo. E entender o conceito de máquina. Até burocrático-empresarial.

 

Julgo que desde a primeira hora e do primeiro minuto, o do programa Catroga que aqui e publicamente denunciei a opção, mesmo antes de Santana Castilho apresentar o respectivo livro e de Pedro prometer publicamente aproximar-se das críticas recebidas. A política educativa é fundamental e custa muito aos contribuintes para o mais do mesmo, à espera de voluntarismos e de políticas de imagem bem embrulhadas.

 

Os professores, as escolas, os alunos e as famílias têm sofrido demais para que politiqueiramente venham dizer que essas críticas são manias intelectuais de professores com más experiências com os políticos ou com guerrazinhas de homenzinhos com ambições. A coisa é bem mais funda. É carimbarmos como mudança um belo discurso de RGA, só porque ninguém tem a pachorra de construir uma alternativa do grão a grão, com os pés no chão e a cabeça no sonho. O problema não está no novo ministro e na sua equipa secretarial. O problema está nos velhos partidos que pensam que vão varar as Tormentas e chegar à Índia sem Escola de Sagres e sem Bartolomeus que morram tentando. A educação é coisa pública e requer uma política pública institucional, com ideia de obra, manifestações de comunhão e rigoroso cumprimentos dos pactos. Não se faz por decreto ou por "révolution d'en haut".

 

Isto não é um problema de pessoalismos e de protagonismos. É um problema colectivo. De correntes de pensamento. Que sejam bem mais fundas. Direi que é um problema de patriotismo científico.

 

 Deus queira que me engane...

publicado por José Adelino Maltez às 12:33

08
Jan 10

Educação em Portugal é aquele belo átrio do edifício veiga-simoniano da 5 de Outubro, pejado de retratos "à la minute" das sumidades ministeriais que nele se assentaram, incluindo a actual líder do PSD, e entre as quais raras são as que viveram como professores de alma grande. Mas, ontem à noite, retomando-se o hábito dos homens e das mulheres sem sono, lá se fez, depois de muitos preâmbulos de barganha, um dito armistício, em nome do "bom e velho Estado" que nos protege contra os banqueiros, para parafrasearmos Sócrates em Paris, quando procurava "traduzir em calão" o conceito de Nação de presidente gaullista.

 

Por outras palavras, entre Maria de Lurdes e Isabel, entre Rodrigues e Alçada, apesar de haver o mesmo chanceler, em presidencialismo de Primeiro-Ministro, as políticas são exactamente outras, assim se manifestando como a pressão do activismo sindical, nomeadamente com cem mil na rua, tornou o movimento corporativo relativamente frutuoso e compreensível para uma professora em função ministerial. Por outras palavras, o fim voltou a ser o princípio e talvez o regresso à lenta recuperação do prestígio de uma classe, depois da luta. Sobretudo quando continua o confronto com a pesada burocracia, tecnocrática e construtivista, dominada por uma gerontocracia de avaliólogos e educacionólogos em circuito fechado, onde interessa mais um relatório à Roberto Carneiro, para gestionário ler as tabelas, do que o amor da aula, ou o diálogo directo com os alunos, as famílias e as comunidades onde eles se inserem.

 

Resta saber se há coragem para se retomarem as ideias das velhas, mas não antiquadas, repúblicas de professores de base, como o foram um Hernâni Cidade, um José Régio, um Sebastião da Gama, um Rómulo de Carvalho, ou um Virgílio Ferreira, quando os professores se assumiam como missionários de uma religião cívica, a da instrução popular ou a da educação nacional. Por outras palavras, só voltará a haver prestígio dos professores quando eles puderem retomar uma função política, comunitariamente consensualizada, não a de vendedores de ideologias de um qualquer livro único politicamente correcto, de acordo com o pensamento dominante, mas algo bem mais estrutural: a religião secular da pátria e da humanidade e a transmissão daquela invisível corrente de humanismo que nos permite a rebeldia e até a insolência, as dos homens e das mulheres livres, virtude básica de uma ética de democracia.

 

 

 

(Postal por mim publicado hoje Albergue Espanhol)

publicado por José Adelino Maltez às 21:39

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Biografia
Bem mais de meio século de vida; quarenta e dois anos de universidade pública portuguesa; outros tantos de escrita pública no combate de ideias; professor há mais de trinta e cinco e tal; expulso da universidade como estudante; processado como catedrático pelo exercício da palavra em jornais e blogues. Ainda espera que neste reino por cumprir se restaure a república
Invocação
Como dizia mestre Herculano, ao definir o essencial de um liberal: "Há uma cousa em que supponho que ate os meus mais entranhaveis inimigos me fazem justiça; e é que não costumo calar nem attenuar as proprias opiniões onde e quando, por dever moral ou juridico, tenho de manifestá-las"......
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